«Liturgia da Santa Missa»
Ano 13 – nº 691 – 24 de
dezembro de 2023
roxo – 1ª classe
Coincidindo
a Vigília com o IV domingo do Advento, diz-se a Missa da Vigília e faz-se a
comemoração do domingo.
«Hoje
sabereis que o Senhor virá, e amanhã vereis a sua glória.»
Nos tempos
antigos, preparavam-se os fiéis para as grandes solenidades, passando a noite
anterior, ou parte dela, em oração e cânticos, jejuando e fazendo penitência.
Chamaram-se vigílias a essas reuniões noturnas e esse nome foi conservado,
quando, mais tarde, essas práticas de penitência foram feitas durante o dia que
precede à festa. Na medida de nossas condições pessoais e, por conseguinte, da
participação a essas penitências, colheremos também frutos mais ou menos
abundantes destas solenidades.
Maria
Santíssima guiou os nossos passos durante o tempo do Advento. É justo que
reunidos em nossa igreja (Statio), junto ao presépio, esperemos com ela o
Salvador.
Entre todas
as vigílias, as de Natal e Páscoa tem sido sempre as mais caras ao espírito
cristão, por serem as mais significativas para a vida religiosa e espiritual.
Eis o motivo porque os fiéis, nestes dias, não devem perder o ensejo de
assistir ao santo Sacrifício da Missa.
Com as
palavras com que Moisés anunciou ao povo, no deserto, a chuva do maná (pão, que
era uma figura da Eucaristia), anuncia-nos a Igreja, no Intróito, a vinda do
Senhor.
Este Senhor
é o verdadeiro Maná, verdadeiro Deus e verdadeiro homem (Epístola) nascido da
Virgem Maria por virtude do Espírito Santo (Evangelho). No Ofertório da santa
Missa vamos ao encontro do Rei da Glória e Ele se revelará a todos os corações
na santa Comunhão. E se assim, de ano em ano, O esperamos com alegria como
Redentor, também poderemos esperá-Lo com muita confiança como Juiz que há de
vir. É o que pedimos na Oração.
E ela dará à luz um Filho, ao qual tu darás o nome de Jesus. Ev.
Intróito
/ Êxodo 16. 6-7; Salmo 23. 1
Canto solene de entrada, o Introito como que
enuncia o tema geral da Missa ou solenidade do dia.
Hódie sciétis, quia véniet Dóminus et salvábit nos: et mane vidébitis
glóriam eius. Ps. Dómini est terra, et plenitúdo eius: orbis terrárum, et univérsi,
qui hábitant in eo. ℣.
Glória Patri.
Hoje
sabereis que o Senhor vírá, e nos salvará; e amanhã vereis a sua glória1. Sl. Do Senhor é a terra e tudo que ela contém: o orbe inteiro e
quantos nele habitam. ℣. Glória ao Pai.
1. Transposição do texto do Êxodo: «Esta noite
sabereis que Javé nos tirou do Egito, e amanhã de manhã vereis a glória de
Javé.» O mesmo no gradual.
Oração (Colecta)
Pedimos ao Senhor aquilo de que precisamos
nesse dia para a nossa salvação.
Deus, qui nos redemptiónis nostræ ánnua exspectatióne lætíficas: præsta;
ut Unigénitum tuum, quem Redemptórem læti suscípimus, veniéntem quoque Iúdicem
secúri videámus, Dóminum nostrum Iesum Christum, Fílium tuum: Qui tecum vivit
et regnat.
Ó Deus, que nos alegrais anualmente com a expectação de nossa redenção,
concedei que, recebendo com alegria o vosso Filho Unigênito, Nosso Senhor Jesus
Cristo, vindo como Redentor, possamos também esperá-Lo confiantes, quando vier
como Juiz, Ele que, sendo Deus, convosco vive e reina.
Epístola de São Paulo Apóstolo aos Romanos 1. 1-6
Leitura ordinariamente extraída das epístolas
ou cartas dos Apóstolos; daí o seu nome.
Toda a Missa é um anúncio da vinda de Cristo e esta
breve perícope basta para no-lo apresentar tal como é: Filho de Deus, Filho de
David anunciado pelos profetas, ressuscitado de entre os mortos. De pagãos que
éramos, fomos chamados ao conhecimento e à graça da boa nova.
Paulus, servus Iesu Christi, vocátus Apóstolus, segregátus in Evangélium
Dei, quod ante promíserat per Prophétas suos in Scriptúris sanctis de Fílio
suo, qui factus est ei ex sémine David secúndum carnem: qui prædestinátus est
Fílius Dei in virtúte secúndum spíritum sanctificatiónis ex resurrectióne
mortuórum Iesu Christi, Dómini nostri: per quem accépimus grátiam, et
apostolátum ad oboediéndum fídei in ómnibus géntibus pro nómine eius, in quibus
estis et vos vocáti Iesu Christi, Dómini nostri.
1Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado ao apostolado, escolhido para
anunciar o Evangelho de Deus 2que Ele havia antes prometido por seus Profetas, nas santas
Escrituras, 3acerca de seu Filho. Este nasceu da linhagem de Davi, segundo a
carne, 4predestinado Filho de Deus, com poder, segundo o Espírito de
santificação2, por sua
ressurreição dentre os mortos, Jesus Cristo, Nosso Senhor. 5Por Ele recebemos a graça do apostolado, para trazer em seu Nome à
obediência da fé 6todos os gentios; entre eles, sois também vós chamados por Jesus Cristo,
Nosso Senhor.
2. De
boa mente diríamos: «segundo a sua natureza humana... segundo a sua natureza
divina...» A frase ficou em suspenso.
Gradual / Êxodo 16. 6,7; Salmo 79. 2-3
Gradual e Aleluia, são cantos intercalares,
por via de regra, tirados dos salmos e que traduzem os devotos afetos produzidos
na alma pela leitura da Epístola ou sugeridos pelo Mistério do dia.
Hódie sciétis, quia véniet Dóminus et salvábit nos: et mane vidébitis
glóriam eius. ℣.
Qui regis Israël, inténde: qui dedúcis, velut ovem, Ioseph: qui sedes
super Chérubim, appáre coram Ephraim, Béniamin, et Manásse.
Hoje
sabereis que o Senhor virá e nos salvará; e amanhã vereis a sua glória. ℣. Vós, que
governais a Israel, escutai; Vós, que como à ovelha, conduzis a José. Vós, que
estais assentado acima dos Querubins, manifestai-Vos resplandecente perante
Efraim, Benjamim e Manassés.
Aleluia
Allelúia, allelúia. ℣. Crástina die delébitur iniquitas terræ: et regnábit
super nos Salvátor mundi. Allelúia.
Aleluia,
aleluia. ℣. Amanhã será
apagada a iniquidade da terra e sobre nós reinará o Salvador do mundo. Aleluia.
Evangelho segundo São Mateus 1. 18-21
Proclamação solene da Palavra de Deus. Ponto
culminante desta primeira parte da Missa, a leitura ou canto do Evangelho, é
revestida da maior solenidade. O respeito para com ele, exige seja escutado de
pé.
Cum esset desponsáta Mater Iesu Maria Ioseph, ántequam convenírent,
inventa est in útero habens de Spiritu Sancto. Ioseph autem, vir eius, cum
esset iustus et nollet eam tradúcere, vóluit occúlte dimíttere eam. Hæc autem
eo cogitánte, ecce, Angelus Dómini appáruit in somnis ei, dicens: Ioseph, fili
David, noli timére accípere Maríam cóniugem tuam: quod enim in ea natum est, de
Spíritu Sancto est. Páriet autem fílium, et vocábis nomen eius Iesum: ipse enim
salvum fáciet pópulum suum a peccátis eórum.
18Estando já desposada, Maria, Mãe de Jesus, com José, antes que habitassem
juntos, achou-se ter esta concebido por obra do Espírito Santo. 19Então José, seu esposo, como era um homem justo e não a queria difamar,
resolveu deixá-la secretamente. 20Enquanto porém, intentava fazer isso, eis que um Anjo do Senhor
apareceu-lhe em sonhos, dizendo: José, filho de Davi, não
temas receber Maria como tua esposa, porque O que nela está concebido foi
formado pelo Espírito Santo. 21E ela dará à luz um Filho, ao qual tu darás o nome de Jesus; porque Ele
salvará o seu povo de seus pecados.
CREDO... Concluímos a Ante-Missa com essa
profissão de fé.
Breve
compêndio das verdades cristãs e Símbolo da fé católica. Com a Igreja,
afirmemo-las publicamente e renovemos a profissão de fé que fizemos no Batismo.
Ofertório / Salmo 23. 7
Com o Ofertório, começa a segunda parte da
Missa ou Sacrifício propriamente dito.
Tóllite portas, principes, vestras: et elevámini, portæ æternáles, et
introíbit Rex glóriæ.
Abri, ó
príncipes, as vossas portas; alargai-vos, pórticos eternos, e o Rei da glória
entrará.
Secreta
É a antiga «oração sobre as oblatas», ponto de
ligação entre o Ofertório e o Cânon.
Da nobis, quǽsumus, omnípotens Deus: ut, sicut adoránda Fílii tui
natalítia prævenímus, sic eius múnera capiámus sempitérna gaudéntes: Qui tecum
vivit et regnat.
Concedei-nos,
ó Deus onipotente, que assim como preparamos o adorável natalício de vosso Filho,
da mesma forma, alegres, recebamos os seus dons sempiternos, Ele que, sendo
Deus, convosco vive e reina.
Communio / Isaias 40. 5
Alternando com o canto dum salmo, acompanhava
(e ainda hoje pode acompanhar) a comunhão dos fiéis.
Revelábitur glória Dómini: et vidébit omnis caro salutáre Dei nostri.
A glória
do Senhor se manifestará, e toda carne verá a salvação por nosso Deus.
Postcommunio
Súplica a Deus para que nos conceda os frutos
do Sacrifício.
Da nobis, quǽsumus, Dómine: unigéniti Fílii tui recensíta nativitáte
respiráre; cuius coelésti mystério páscimur et potámur. Per eundem Dominum
nostrum Iesum Christum.
Concedei-nos,
Senhor, que se alegrem os nossos corações, festejando o nascimento de vosso Unigênito,
cujo celeste Mistério nos dá Alimento e Bebida. Pelo mesmo Jesus Cristo.
Meditação
Realiza-se o grande mistério
Ó Verbo Incarnado, meu Salvador, mostrai-me as
lições cheias de sabedoria encerradas no mistério da Vossa Encarnação.
1 – Entre todas as obras que
Deus realizou no tempo e fora de Si, a maior é a Incarnação redentora do
Verbo, porque tem por termo, não uma simples criatura, por mais sublime que
seja, mas o próprio Deus, o Verbo eterno, que assume no tempo uma natureza
humana. Maior, porque sendo a suprema manifestação do amor misericordioso de
Deus, é, entre todas, a que mais O glorifica, glorificando-O precisamente em
relação à caridade que é a essência de Deus. Maior, por último, pelo bem imenso
que traz aos homens; a salvação, a santificação, a felicidade eterna de todo o
gênero humano dependem da Incarnação do Verbo, de Jesus Verbo Incarnado. Deus
Pai «escolheu-nos antes da criação do mundo, para sermos santos e imaculados...
predestinou-nos para sermos Seus filhos adotivos por (meio de) Jesus Cristo...
NEle temos a redenção... a remissão dos pecados, segundo as riquezas da Sua
graça... Deus convivificou-nos em Cristo... e nos ressuscitou e nos fez sentar
nos céus com Jesus Cristo» (Ef. 1, 4-11; 2, 5-6). Jesus, o Verbo incarnado, é a
única fonte da nossa salvação e da nossa santidade; sem Ele o homem não poderia
chamar Deus pelo doce nome de Pai, não poderia amá-lO como um filho ama o seu
pai, não poderia nunca esperar ser admitido à Sua intimidade; não haveria nem
graça nem visão beatífica de Deus. Sem Jesus o homem ficaria prisioneiro dentro
dos limites de uma vida puramente humana, privado de todo o horizonte
sobrenatural para o tempo e para a eternidade.
2 – A Incarnação do Verbo, a
maior obra de Deus, destinada a iluminar e salvar o mundo inteiro, realiza-se
na obscuridade, no silêncio, no meio das circunstâncias mais humildes e mais
humanas. O edito de César obriga Maria e José a deixarem a sua casinha de
Nazaré e ei-los a caminho, a pé como os mais pobres, apesar do estado de Maria
que está prestes a ser Mãe. Não se julgaram autorizados a atrasar a viagem, não
fizeram objecções, obedeceram com prontidão e simplicidade. Quem manda é um
homem, mas o seu profundo espirito de fé descobre na ordem do Imperador pagão a
vontade de Deus. E vão confiados na divina Providência; Deus sabe, e Deus
providenciará: «todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus»
(Rom. 8, 28). Em Belém não há lugar para
eles, não lhes resta senão abrigarem-se numa gruta dos arredores. A miséria
daquele refúgio de animais não os apoquenta nem escandaliza: sabem que o Menino
que vai nascer é o Filho de Deus, mas sabem igualmente; que as obras de Deus
são bem diferentes das dos homens! E se Deus quer que a Sua maior obra se
realize ali, naquela miserável gruta, na mais extrema pobreza, Maria e José
nada têm a replicar. Bastaria um pouco de espírito humano para se perturbarem,
para duvidarem, para se desorientarem... Maria e José são profundamente
humildes, por isso, são dóceis e cheios de fé em Deus. E Deus, conforme o Seu
costume, serve-Se de tudo o que é humilde e desprezível aos olhos do mundo para
realizar a mais grandiosa das Suas obras: a Incarnação do Verbo.
MADALENA, Padre Gabriel de Santa Maria.
Intimidade Divina. 2. ed.
Porto: Edições Carmelitanas, 1967, p. 122-124.
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