«Liturgia da Santa Missa»
Ano 13 – nº 692 – 31 de
dezembro de 2023
† Domingo dentro da
oitava do Natal
branco – 2ª classe.
«Quando tudo repousava em profundo silêncio», na
santa noite de Natal, apareceu o Cristo-Rei, sob a forma de uma Criancinha (Introito).
Pedimos que Ele nos submeta a seu poder, fazendo-nos praticar as boas obras
(Oração), depois de nos ter libertado da escravidão e de nos ter elevado à
dignidade de filhos de Deus (Epístola). Sejam nossos exemplos de vida cristã:
S. José, Nossa Senhora, Simeão e Ana (Evangelho). Ainda tão próximos do
presepe, quedamos, no entanto, surpresos. O mesmo Evangelho nos deixa entrever
a Redenção pela Paixão. A Criancinha será o Homem das dores; a Virgem-Mãe, a Mater
dolorosa. O altar, neste dia, é para nós presepe e cruz ao mesmo tempo.
Conforta-nos, entretanto, o pensamento de que na Comunhão podemos «tomar o Menino»
com a sua Mãe, e com eles caminhar para a vida eterna.
«Este menino está destinado para ser ruína e ressurreição de muitos em
Israel.» Ev.
Hoje,
último dia do ano civil, concede-se a Indulgência Plenária a todas as
pessoas que, em comunidade, nas igrejas e oratórios públicos ou semipúblicos,
rezarem ou cantarem o Te Deum em ação de graças.
Amanhã, primeiro dia do
ano civil, concede-se também a Indulgência Plenária a todas as pessoas que,
em comunidade, na igrejas e oratórios públicos ou semipúblicos, rezarem o
cantarem o Veni Creator implorando a proteção divina para todo o ano (conf.
Enchir. Indulg. n. 60 e 61).
Intróito / DUM MÉDIUM – Sabedoria
18. 14-15; Salmo
92. 1.
Canto
solene de entrada, o Introito como que enuncia o tema geral da Missa ou
solenidade do dia.
Dum médium siléntium tenérent ómnia, et nox in suo
cursu médium iter háberet, omnípotens Sermo tuus, Dómine, de cælis a regálibus
sédibus venit. Ps. Dóminus regnávit, decórem indútus est: indútus est Dóminus
fortitúdinem, et præcínxit se. ℣. Glória Patri.
Quando tudo repousava em profundo silêncio e a noite
ia no meio de seu curso, baixou, Senhor, dos céus, do trono real, vosso Verbo
onipotente. Sl. O Senhor é Rei, envolto em magnificência; revestiu-se o Senhor
de força e cingiu-se. ℣.
Glória ao Pai.
Oração (Colecta)
Pedimos
ao Senhor aquilo de que precisamos nesse dia para a nossa salvação.
Omnípotens sempitérne Deus, dírige actus nostros in
beneplácito tuo: ut in nómine dilécti Fílii tui mereámur bonis opéribus
abundáre: Qui tecum vivit et regnat.
Dirigi, ó Deus onipotente e eterno, as nossas ações
segundo o vosso beneplácito, a fim de que mereçamos enriquecer-nos de boas
obras, em o Nome de vosso Filho muito amado, que, sendo Deus, convosco vive e
reina.
Leitura epístola de São Paulo Apóstolo aos Gálatas 4. 1-7
Leitura
ordinariamente extraída das epístolas ou cartas dos Apóstolos; daí o seu nome.
A vinda de Cristo transformou totalmente a condição dos homens com
relação a Deus. Tornados filhos d’Ele, como tais se lhe dirigem, certos de
serem escutados e acolhidos pelo Pai celeste. S. Paulo que fala a Judeus
convertidos, compara-lhes a antiga situação à de herdeiros de menor idade,
tutelados até à maioridade legal. Com a vinda de Jesus, o povo de Deus atinge
maioridade e entra na posse e usufruto da herança prometida.
Fratres: Quanto témpore heres párvulus est, nihil differt a servo, cum
sit dóminus ómnium: sed sub tutóribus et actóribus est usque ad præfinítum
tempus a patre: ita et nos, cum essémus párvuli, sub eleméntis mundi erámus
serviéntes. At ubi venit plenitúdo témporis, misit Deus Fílium suum, factum ex
mulíere, factum sub lege, ut eos, qui sub lege erant, redímeret, ut adoptiónem
filiórum reciperémus. Quóniam autem estis fílii, misit Deus Spíritum Fílii sui
in corda vestra, clamántem: Abba, Pater. Itaque iam non est servus, sed fílius:
quod si fílius, et heres per Deum
Irmãos: 1Enquanto o herdeiro
é menino, em nada difere do servo, ainda que de tudo seja senhor; 2mas está sujeito a tutores e curadores até o tempo
determinado pelo pai. 3Assim também nós, quando éramos
meninos, éramos sujeitos às leis do mundo. 4Quando, porém, se
cumpriu a plenitude do tempo, enviou Deus o seu Filho, nascido de uma mulher,
sujeito à lei, 5a fim de remir os que à lei estavam
sujeitos e para que recebêssemos a adoção de filhos. 6E porque sois filhos, enviou Deus a vossos corações
o Espírito de seu Filho, que clama: Abba, Pai. 7Portanto, já nenhum de vós é servo, mas filho; e se
é filho, também é herdeiro por Deus.
Gradual / Salmo 44. 3 e 2
Gradual e
Aleluia, são cantos intercalares, por via de regra, tirados dos salmos e que
traduzem os devotos afetos produzidos na alma pela leitura da Epístola ou
sugeridos pelo Mistério do dia.
Speciósus forma præ filiis hóminum: diffúsa est
gratia in lábiis tuis. ℣.
Eructávit cor meum verbum bonum, dico
ego ópera mea Regi: lingua mea cálamus scribæ, velóciter scribéntis.
Ultrapassais em formosura os filhos dos homens; a
graça derramou-se em vossos lábios. ℣. Exulta o meu
coração em alegre canto: ao Rei dedico as minhas obras. Minha língua é como a
pena do escriba, que escreve velozmente.
Aleluia / Salmo 92. 1
Allelúia, allelúia. ℣. Dóminus regnávit, decórem índuit: índuit Dóminus
fortitúdinem, et præcínxit se virtúte. Allelúia.
Aleluia, aleluia. ℣. O Senhor é Rei, envolto
em magnificência; revestiu-se o Senhor de força e cingiu-se de poder. Aleluia.
Evangelho segundo São Lucas 2. 33-40
Proclamação
solene da Palavra de Deus. Ponto culminante desta primeira parte da Missa, a
leitura ou canto do Evangelho, é revestida da maior solenidade. O respeito para
com ele, exige seja escutado de pé.
Dois anciãos, iluminados pelo Espírito Santo – Simeão e a profetisa Ana –
reconhecem em Jesus o Messias, e imediatamente se proclama a grande
discriminação que terá de fazer-se entre os homens: a atitude que tomarem com
Ele revelará o fundo dos corações e fixará o destino eterno de cada qual.
In illo témpore: Erat Ioseph et María Mater Iesu,
mirántes super his quæ dicebántur de illo. Et benedíxit illis Símeon, et dixit
ad Maríam Matrem eius: Ecce, pósitus est hic in ruínam et in resurrectiónem
multórum in Israël: et in signum, cui contradicétur: et tuam ipsíus ánimam pertransíbit
gládius, ut reveléntur ex multis córdibus cogitatiónes. Et erat Anna
prophetíssa, fília Phánuel, de tribu Aser: hæc procésserat in diébus multis, et
víxerat cum viro suo annis septem a virginitáte sua. Et hæc vídua usque ad
annos octogínta quátuor: quæ non discedébat de templo, ieiúniis et
obsecratiónibus sérviens nocte ac die. Et hæc, ipsa hora supervéniens,
confitebátur Dómino, et loquebátur de illo ómnibus, qui exspectábant
redemptiónem Israël. Et ut perfecérunt ómnia secúndum legem Dómini, revérsi
sunt in Galilǽam in civitátem suam Názareth. Puer autem crescébat, et
confortabátur, plenus sapiéntia: et grátia Dei erat in illo.
Naquele tempo, 33José
e Maria, Mãe de Jesus, maravilhavam-se das coisas que se diziam d’Ele. 34E Simeão abençoou-os, e disse a Maria, Mãe de
Jesus: Eis que este menino está destinado para ser ruína e ressurreição de
muitos em Israel, e para ser alvo de contradição. 35E uma espada traspassará a tua alma, para que se
manifestem os pensamentos dos corações de muitos. 36E estava também ali Ana, profetisa, filha de
Fanuel, da tribo de Aser, a qual já era muito idosa; 37e depois de sua virgindade vivera 7 anos com seu
marido. E agora, sendo viúva de quase oitenta e quatro anos, não se afastava do
templo, servindo a Deus com jejuns e orações, de dia e de noite. 38Tendo ela chegado àquela mesma hora, louvava ao
Senhor e falava do Menino a todos os que esperavam a redenção de Israel. 39E quando cumpriram todas as coisas segundo a lei do
Senhor, voltaram [José e Maria] para a Galiléia, para a sua cidade de Nazaré. 40E o menino crescia e se fortalecia, cheio de
sabedoria; e a graça de Deus estava com Ele.
CREDO... Concluímos a Ante-Missa com essa
profissão de fé.
Breve
compêndio das verdades cristãs e Símbolo da fé católica. Com a Igreja, afirmemo-las
publicamente e renovemos a profissão de fé que fizemos no Batismo.
Ofertório / Salmo
92. 1-2
Com o
Ofertório, começa a segunda parte da Missa ou Sacrifício propriamente dito.
Deus firmávit orbem terræ, qui non commovébitur: paráta
sedes tua, Deus, ex tunc, a sǽculo tu es.
O Senhor firmou o orbe da terra, que não será
abalado. Vosso trono está preparado desde então, ó Deus; Vós sois desde toda a
eternidade.
Secreta
É a
antiga «oração sobre as oblatas», ponto de ligação entre o Ofertório e o Cânon.
Concéde, quǽsumus, omnípotens Deus: ut óculis tuæ
maiestátis munus oblátum, et grátiam nobis piæ devotiónis obtineat, et efféctum
beátæ perennitátis acquírat. Per Dominum nostrum Iesum Christum.
Concedei, Vos rogamos, ó Deus onipotente, que a
dádiva oferecida ante os olhos de Vossa Majestade nos alcance a graça de um
devotado espírito de sacrifício e a posse da eterna felicidade. Por Nosso
Senhor Jesus Cristo.
Communio / São Mateus 2. 20
Alternando
com o canto dum salmo, acompanhava (e ainda hoje pode acompanhar) a comunhão
dos fiéis.
Tolle Púerum et Matrem eius, et vade in terram Israël: defúncti sunt
enim, qui quærébant ánimam Púeri.
Toma o Menino e sua Mãe, e vai para a terra de
Israel, porque já são mortos os que procuravam tirar a vida do Menino.
Postcommunio
Súplica a
Deus para que nos conceda os frutos do Sacrifício.
Per huius, Dómine, operatiónem mystérii, et vitia nostra purgéntur, et iusta
desidéria compleántur. Per Dominum nostrum Iesum Christum.
Fazei, Senhor, que, pela força deste Mistério,
sejamos purificados de nossos vícios, e se cumpram os nossos justos desejos.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo.
Meditação
Sinal de Contradição
Perante Jesus o mundo divide-se: amigos e inimigos. Ó Senhor, que eu
seja dos primeiros e dos mais amantes!
1 – A Missa de hoje é um eco do
Natal; mas, enquanto recorda a sua suavidade e alegria, reveste-se também de
uma nota de profunda tristeza. O Evangelho (Lc. 2. 33-40) transporta-nos de repente a
quarenta dias depois do nascimento de Jesus, quando Ele é apresentado no
templo, e refere-nos a profecia de Simeão: «Eis que este Menino está posto para
ruína e para ressurreição de muitos em Israel e para ser alvo de contradição».
O Filho de Deus faz-Se homem para
todos os homens, traz e oferece a todos a salvação; muitos, porém, não O
receberão. É o grande mistério da liberdade humana. Deus põe diante de Si a
criatura inteligente e livre; oferece-lhe todos os tesouros de salvação e de
santidade encerrados nos méritos infinitos de Jesus Cristo; o homem é livre
para os aceitar ou recusar. Eis a nossa tremenda responsabilidade. Jesus veio
para nos salvar, para nos santificar, para Se dar todo às nossas almas: está
pronto a fazê-lo, deseja fazê-lo e todavia não o fará se nós não aceitarmos
livremente o Seu dom infinito, se não correspondermos às Suas solicitações
amorosas com o dom insignificante mas livre da nossa vontade. «Deus não força a
nossa vontade, toma o que Lhe damos, mas não Se dá de todo até que de todos nos
demos a Ele» (T.J. Cam. 28,12).
A profecia de Simeão dirige-se depois
diretamente à Virgem Mãe: «Uma espada traspassará a tua alma». A visão
sangrenta do Calvário cruza-se, de súbito, com a visão do natal, lembrando-nos
que o terno Menino de Belém é o Cordeiro divino que deve ser imolado para a
salvação do mundo.
2 – Entre todos os que se achavam no
templo quando o Menino Jesus aí foi apresentado só duas pessoas reconheceram o
Salvador: o velho Simeão e a profetiza Ana. De Simeão foi dito que «era justo e
temente [a Deus] e esperava a consolação de Israel e o Espírito Santo
encontrava-se nele» (Lc. 2, 25);
de Ana que «não se afastava do templo, servindo a Deus noite e dia com jejuns e
orações». Estas são as características das almas bem dispostas a aceitar a obra
redentora de Jesus: retidão de espírito e de vontade, desejo sincero de Deus,
recolhimento, oração, mortificação. Quanto mais profundas forem estas
disposições, mais aberta estará a alma à ação divina; a luz do Espírito Santo
faz-lhe reconhecer em Jesus o seu salvador, o seu santificador, e Jesus pode
cumprir plenamente nela a Sua obra. A estas almas se aplicam, dum modo
particular, as magníficas palavras de S. Paulo na Epístola de hoje (Gal. 4, 1-7): «e porque vós sois filhos, Deus
mandou aos vossos corações o Espírito de Seu Filho, que clama; Abba, Pai».
A cada cristão, a cada um dos remidos
com o Sangue de Jesus, diz o Apóstolo: «Já não és servo mas filho; e, se és
filho, também és herdeiro por Deus»; infelizmente nem todos os cristãos vivem
como verdadeiros filhos de Deus: no batismo receberam a «adoção de filhos», mas
não sabem corresponder com as obras a este imenso dom gratuito, fruto dos
méritos de Jesus.
Quando, pelo contrário, a alma
secunda generosamente a ação divina, esta ação invade-a e o Espírito Santo, o
Espírito de Jesus, grita do fundo do seu coração: «Abba, Pai»!
MADALENA,
Padre Gabriel de Santa Maria. Intimidade Divina. 2. ed.
Porto: Edições Carmelitanas, 1967, p. 144-146.