«Liturgia Dominical»
Ano 11 – nº 587 – 19
de março de 2022 – Edição Extra
† Festa de São José,
Esposo de Nossa Senhora
e Padroeiro da Igreja Universal
branco – 1ª classe.
Duas
grandes festas celebra a santa Igreja em honra de S. José. Como esposo de Nossa
Senhora e pai adotivo de Jesus, ele tomou parte intimamente na Redenção.
Celebram-se hoje as excelsas virtudes e a santidade que lhe mereceram a
predileção de Deus, enquanto a segunda festa visa mais a sua dignidade de Padroeiro
da Igreja Universal.
Na santa
Missa, depois de o saudarmos com o título de Justo (Intróito) imploramos a sua intercessão
(Oração), pois Deus ouve as suas orações como ouviu a de Moisés. A este se
referem as palavras da Leitura que são aplicadas a S. José. O Evangelho nos
mostra a sua grandeza, chamando-o de Justo, e ao mesmo tempo, nos manifesta a delicadeza
de seu pensamento, a sua pureza e a sua fé na palavra de Deus. Embora ornado de
tantas virtudes, S. José é modelo de perfeita humildade. Pequeno aos olhos do
mundo, foi grande aos olhos de Deus e é grande no Reino dos céus.
José, filho de Davi, não temas receber Maria,
como tua esposa. EV.
Intróito / Salmo 91. 13-14, 2.
O Intróito como que
enuncia o tema geral da Missa ou solenidade do dia.
Canto solene de entrada, o Introito como que enuncia o tema geral da
Missa ou solenidade do dia. Compunha-se antigamente duma antífona e de um
salmo, que se cantava por inteiro. Hoje o salmo está reduzido a um só
versículo.
Iustus ut palma florébit: sicut cedrus
Líbani multiplicábitur: plantátus in domo Dómini: in átriis domus Dei nostri. Ps.
Bonum est confiteri Dómino: et psállere nómini tuo, Altíssime. ℣. Glória Patri.
O Justo floresce como a palmeira, na
plenitude da força, como o cedro do Líbano plantado na casa do Senhor, e nos átrios
da casa de nosso Deus. Sl. É bom louvar o Senhor e cantar salmos em honra de
vosso Nome, ó Altíssimo. ℣. Glória ao Pai.
Oração (Colecta)
Pedimos ao Senhor aquilo
de que precisamos nesse dia para a nossa salvação.
Numa breve oração, o celebrante resume e apresenta a Deus os votos de
toda a assembleia, votos estes sugeridos pelo mistério ou solenidade do dia.
Sanctíssimæ Genetrícis tuæ Sponsi,
quǽsumus, Dómine, méritis adiuvémur: ut, quod possibílitas nostra non óbtinet,
eius nobis intercessióne donétur: Qui vivis et regnas.
Senhor, nós Vos pedimos sejamos
auxiliados pelos méritos do esposo de vossa Mãe Santíssima, para que, por sua
intercessão nos sejam concedidas as graças que a nossa própria força não
alcança. Vós que, sendo Deus, viveis e reinais.
Epístola extraída do livro do Eclesiástico 45. 1-6
Aplicando a S. José o elogio de Moises feito pelo Eclesiástico, a
liturgia convida-nos a reencontrar nos homens escolhidos por Deus, os caminhos
da Providência divina, que prossegue através dos séculos a realização dos seus
desígnios para a salvação do mundo.
Diléctus Deo et homínibus, cuius
memória in benedictióne est. Símilem illum fecit in glória sanctórum, et
magnificávit eum in timóre inimicórum, et in verbis suis monstra placávit.
Glorificávit illum in conspéctu regum, et iussit illi coram pópulo suo, et
osténdit illi glóriam suam. In fide et lenitáte ipsíus sanctum fecit illum, et
elégit eum; ex omni carne. Audívit enim eum et vocem ipsíus, et indúxit illum
in nubem. Et dedit illi coram præcépta, et legem vitæ et disciplínæ.
Ele 1[Moisés],
foi amado de Deus e dos homens; sua memória é uma benção. 2O Senhor
fê-lo semelhante aos Santos na glória e engrandeceu-o pelo temor que infundia a
seus inimigos; ele com as suas palavras fez cessar os prodígios. 3Glorificou-o
diante dos reis; deu-lhe seus preceitos diante de seu povo e mostrou-lhe a sua
glória. 4Por sua fidelidade e mansidão o santificou e o escolheu dentre todos os
homens. 5Porque Deus o escutou e lhe ouviu a voz, e fê-lo entrar na nuvem. 6E
deu-lhe, face a face, os seus preceitos e a lei da vida e da doutrina.
Gradual / Salmo 20. 4-5
Cantos, por via de regra, tirados dos Salmos e que traduzem os devotos
afetos produzidos na alma pela leitura da Epístola ou sugeridos pelo Mistério
do dia.
Dómine, prævenísti eum in
benedictiónibus dulcédinis: posuísti in cápite eius corónam de lápide pretióso.
℣. Vitam pétiit a te, et tribuísti ei
longitúdinem diérum in sǽculum sǽculi.
Senhor, Vós o prevenistes com bênçãos
de doçura; pusestes sobre a sua cabeça uma coroa de pedras preciosas. ℣. Pediu-Vos a vida e largos anos lhe concedestes pelos séculos dos séculos.
Tracto / Salmo 111. 1-3
Cantos, por via de regra, tirados dos salmos e que traduzem os devotos
afetos produzidos na alma pela leitura da Epístola ou sugeridos pelo Mistério
do dia.
No Tempo da Septuagésima, o Alleluia é substituído pelo Tracto.
Beátus vir, qui timet Dóminum: in
mandátis eius cupit nimis. ℣. Potens in
terra erit semen eius: generátio rectórum benedicétur. ℣. Glória et divítiæ in domo eius: et
iustítia eius manet in sǽculum sǽculi.
Bem-aventurado o homem que teme o
Senhor e se alegra em cumprir os seus preceitos. ℣. Poderosa será a sua posteridade
sobre a terra, abençoada será a descendência dos Justos. ℣. Há em sua casa glória e riqueza, e a sua justiça permanece por todos os
séculos.
Evangelho segundo São Mateus 1. 18-21
Os grandes desígnios de Deus realizam-se com aquela simplicidade de que
esta página do evangelho nos dá comovente testemunho. S. José, age com a
retidão do justo dócil a Deus.
Cum esset desponsáta Mater Iesu María
Ioseph, ántequam convenírent, invénta est in útero habens de Spíritu Sancto.
Ioseph autem, vir eius, cum esset iustus et nollet eam tradúcere, vóluit
occúlte dimíttere eam. Hæc autem eo cogitánte, ecce, Angelus Dómini appáruit in
somnis ei, dicens: Ioseph, fili David, noli timére accípere Maríam cóniugem
tuam: quod enim in ea natum est, de Spíritu Sancto est. Páriet autem fílium, et
vocábis nomen eius Iesum: ipse enim salvum fáciet pópulum suum a peccátis eórum.
18Estando já desposada Maria, Mãe de Jesus, com José, antes que habitassem
juntos, achou-se ter ela concebido por obra do Espírito Santo. 19Então,
José, seu marido, como era um homem justo e não a queria difamar, resolveu
deixá-la secretamente. 20Mas, enquanto intentava isto, um Anjo
do Senhor apareceu-lhe em sonho, dizendo-lhe: José, filho de Davi, não temas
receber Maria, como tua esposa, porque O que nela foi concebido é obra do
Espírito Santo. 21E ela dará à luz um Filho, aos qual
tu porás o nome de Jesus, porque Ele salvará seu povo de seus pecados.1
1. Jesus, de fato, significa, etimológicamente,
Salvador.
CREDO... Concluímos a Ante-Missa com
essa profissão de fé.
Breve compêndio das verdades cristãs e Símbolo da fé católica. Com a
Igreja, afirmemo-las publicamente e renovemos a profissão de fé que fizemos no
Batismo.
Ofertório / Salmo 88. 25
Com o Ofertório, começa a
segunda parte da Missa ou Sacrifício propriamente dito.
Com o Ofertório, começa a segunda parte da Missa ou Sacrifício
propriamente dito. Três elementos o constituíam antigamente: apresentação das
oferendas, canto de procissão, oração sobre as oblatas.
Véritas mea et misericórdia mea cum
ipso: et in nómine meo exaltábitur cornu eius.
Minha fidelidade e minha misericórdia
estão com ele; e em meu Nome se levantará o seu poder.
Secreta
É a antiga “oração sobre as oblatas”, ponto de ligação entre o Ofertório
e o Cânon.
É neste último que se faz propriamente a oblação do sacrifício.
Débitum tibi, Dómine, nostræ réddimus
servitútis, supplíciter exorántes: ut, suffrágiis beáti Ioseph, Sponsi
Genetrícis Fílii tui Iesu Christi, Dómini nostri, in nobis tua múnera tueáris,
ob cuius venerándam festivitátem laudis tibi hóstias immolámus. Per eúndem
Dóminum nostrum Iesum Christum.
Senhor, nós Vos rendemos o tributo que
Vos é devido, rogando humildemente que conserveis em nós os vossos dons por
intercessão de S. José, esposo da Mãe de vosso Filho, Jesus Cristo, Senhor
nosso, porque em sua festiva solenidade Vos oferecemos este Sacrifício de
louvor. Pelo mesmo Jesus Cristo.
Communio / Mateus 1. 20
Alternando com o canto dum salmo, acompanhava (e ainda hoje pode
acompanhar) a comunhão dos fiéis.
Nas Missas cantadas, se canta, enquanto o sacerdote toma as abluções e
recita as orações seguintes em que se pedem para a alma os frutos da Comunhão.
Ioseph, fili David, noli timére
accípere Maríam cóniugem tuam: quod enim in ea natum est, de Spíritu Sancto
est.
José, filho de Davi, não temas receber
Maria, como tua esposa. Porque O que nela foi concebido é obra do Espírito
Santo.
Postcommunio
Súplica a Deus para que nos conceda os frutos do Sacrifício.
Adésto nobis, quǽsumus, miséricors
Deus: et, intercedénte pro nobis beáto Ioseph Confessóre, tua circa nos propitiátus
dona custódi. Per Dóminum nostrum Iesum Christum.
Dignai-Vos assistir-nos, ó Deus
misericordioso, e por intercessão de S. José, vosso Confessor, conservai-nos,
propício, os vossos Dons e graças. Por Nosso Senhor Jesus Cristo.
Meditação
São José, Padroeiro da Igreja
Ó glorioso S. José, fazei que sob o vosso patrocínio cresça e se
desenvolva a minha vida interior.
1 – Hoje a Igreja apresenta-nos
S. José, o grande Patriarca a cuja guarda Deus quis confiar a porção mais
escolhida do Seu rebanho: Maria Santíssima e Jesus. Precisamente porque S. José
foi escolhido por Deus para guarda da família de Nazaré, primeiro núcleo da
grande família cristã, a Igreja quis reconhecer nele o guardião e o patrono de
toda a cristandade. É este o significado da festa de hoje que nos convida a
fixar o nosso olhar na missão do grande Santo, nas suas relações com Jesus e
com a Sua Igreja.
Uma vez conhecido o mistério da
Encarnação, toda a vida de José gravita em torno do Verbo Encarnado: por Ele
suportou angústias, sofrimentos, canseiras, o seu trabalho; consagrou-Lhe todos
os seus cuidados, as suas energias, os seus recursos, todo o seu tempo. Não
reservou nada para si, mas, esquecido totalmente das exigências, desejos e
opiniões pessoais, entregou-se unicamente aos interesses e à obra de Jesus.
Para José não existem senão Jesus e Maria e ele sente que a sua vida não tem
outra razão de ser senão servi-los e protegê-los. Desta forma participou em
cheio, como colaborador humilde e oculto, na obra da Redenção, e se não
acompanhou Jesus na Sua vida apostólica e na Sua morte de Cruz, como Maria,
trabalhou, no entanto, pelos mesmos fins do Salvador.
Tendo sido o guarda fiel da
Sagrada Família, é impossível que do céu S. José não continue a ser o guarda
da grande família cristã, a Igreja inteira, a qual, certa da sua protecção e
apoiando-se nela, suplica assim na Missa do dia: «Apoiando-nos sobre o
patrocínio do Esposo da Vossa Mãe Santíssima, imploramos, Senhor, a Vossa
clemência... e pelos seus méritos e intercessão fazei-nos participar na sua
glória celeste» (MR.).
2 – A escolha de S. José para
guarda da Família de Nazaré foi também para ele o chamamento à intimidade
divina. Não devemos esquecer que S. José se encontra no ponto de divisão entre o
Antigo e o Novo Testamento; a primeira parte da sua vida pertence ao Antigo e a
segunda ao Novo. Antes da vinda de Jesus, tal como os outros Patriarcas da
antiga aliança, ele terá certamente seguido as directivas do seu tempo pelo que
as suas relações com Deus teriam sido sobretudo informadas por um sentimento de
temor reverencial. Mas desde o momento em que o Anjo lhe revela o mistério da Encarnação
e ele vem a saber que Maria, sua Esposa, é a Mãe do Redentor, tudo muda na sua
vida. Deus, a quem sempre honrara como o Altíssimo, o Inacessível, o três vezes
Santo, aproxima-Se tanto dele que encarna no seio de sua Esposa e o escolhe a
ele para Seu pai adotivo. Logo que nasce, é posto em seus braços e confiado aos
seus cuidados; irá crescendo sob os seus olhares, comerá à sua mesa e dormirá
debaixo do seu teto. Oh! Que vida de intimidade! Intimidade não só de relações
exteriores, mas também de relações interiores e espirituais, porque José
conhece pela fé que Jesus é o seu Deus. Assim, juntamente com Maria, o grande Santo
foi o primeiro a penetrar naquela vida de amor e de intimidade com Deus cujas
portas nos foram abertas por Jesus. Vejamos José, portanto, cumprindo a sua
missão não só com uma total dedicação exterior, mas com o coração cheio de
Jesus, com um coração onde se desenrola uma vida riquíssima de intimidade
divina. Ao mesmo tempo que se entrega aos deveres do seu ofício de pai adotivo,
no segredo da sua alma vive em contínuas relações de amor com o seu Deus, o
Verbo Encarnado.
Cada um de nós tem na Igreja a
sua missão a cumprir para o bem das almas e para a glória de Deus, missão que
exige obras, e muitas vezes obras fatigantes, sacrifícios e atividade intensa.
Como S. José, devemos dar-nos com generosidade, com totalidade, sem nos
pouparmos, sem reservas; mas devemos igualmente dar-nos às obras de Deus com um
coração cheio de Deus, com um coração que vive em intimidade com Ele, alimentando
esta intimidade por meio do exercício assíduo da oração. José ensina-nos o seu
doce segredo de vida ao mesmo tempo ativa e contemplativa para que, como ele,
saibamos dar-nos à ação sem descurar a nossa vida de íntima união com Deus.
MADALENA,
Padre Gabriel de Santa Maria. Intimidade Divina. 2. ed.
Porto:
Edições Carmelitanas, 1440-1442.