«Liturgia da Santa Missa»
Ano 13 – nº 687 – 3 de dezembro
de 2023
† 1º Domingo do
Advento
roxo – 1ª classe.
A terra abençoada, de que nos fala a Communio, é
Maria Santíssima. Ela nos deu o fruto abençoado de suas entranhas. Por isso
estamos reunidos, ao menos em espírito, em sua igreja (Statio).
Compenetrados das palavras do Evangelho: «Erguei as
vossas cabeças, porque se aproxima a vossa Redenção... Sabei que perto está o Reino de Deus», voltamo-nos no começo do Ano eclesiástico para Deus, com
toda a alma (Introito). Nossa Redenção é obra da bondade de Deus
(Oração), mas também o é de nossa cooperação, conforme nos diz Santo Agostinho:
«Aquele que te criou sem ti, não te salvará sem ti». Esta cooperação consiste
em «levantarmo-nos do sono, renunciarmos às trevas e revestirmo-nos do Senhor Jesus
Cristo» (Epístola). Unindo, no Ofertório, estas resoluções ao sacrifício de
Jesus Cristo, receberemos na Comunhão a bênção de Deus e tornar-nos-emos uma
terra abençoada, que há de produzir abundantes frutos para a vida cristã.
«Vinde, adoremos o Rei, o Senhor que está para chegar...» (BR.)
Intróito / AD TE LEVÁVI – Salmo 24. 1-4
Canto
solene de entrada, o Introito como que enuncia o tema geral da Missa ou
solenidade do dia.
Ad
te levávi ánimam meam: Deus meus, in te confíde, non erubéscam: neque irrídeant
me inimíci mei: étenim univérsi, qui te exspéctant, non confundéntur. Vias
tuas, Dómine, demónstra mihi: et sémitas tuas édoce me. ℣.
Glória Patri.
A Vós
elevo a minha alma; ó meu Deus, em Vós confio; não serei envergonhado. Não se
riam de mim os meus inimigos, porque, todos os que em Vós esperam não serão confundidos.
Sl. Mostrai-me, Senhor, os vossos caminhos e ensinai-me as vossas
veredas. ℣. Glória ao Pai.
Oração (Colecta)
Pedimos
ao Senhor aquilo de que precisamos nesse dia para a nossa salvação.
Excita,
quǽsumus, Dómine, poténtiam tuam, et veni: ut ab imminéntibus peccatórum
nostrórum perículis, te mereámur protegénte éripi, te liberánte salvári: Qui
vivis et regnas cum Deo Patre.
Manifestai, Senhor,
Vos pedimos, o vosso poder e vinde para que, por vossa proteção, mereçamos ser
libertados dos perigos a que os nossos pecados nos expõem, e ser salvos por
vossa mão libertadora. Vós que, sendo Deus, viveis e reinais com Deus Pai.
Epístola de São Paulo Apóstolo aos Romanos 13. 11-14
Leitura
ordinariamente extraída das epístolas ou cartas dos Apóstolos; daí o seu nome.
A primeira geração cristã vivia, mais do que nós, na expectativa da
vinda gloriosa do Senhor; contudo, a vida cristã de cada dia, preparando-nos
para ela, aí vai haurir toda a sua razão de ser.
Fratres:
Scientes, quia hora est iam nos de somno súrgere. Nunc enim própior est nostra
salus, quam cum credídimus. Nox præcéssit, dies autem appropinquávit.
Abiiciámus ergo ópera tenebrárum, et induámur arma lucis. Sicut in die
honéste ambulémus: non in comessatiónibus et ebrietátibus, non in cubílibus et
impudicítiis, non in contentióne et æmulatióne: sed induímini Dóminum Iesum
Christum.
Irmãos: 11Sabeis que já é hora de despertarmos
do sono, pois, a salvação está agora mais perto de nós, do que quando abraçamos
a fé. 12A
noite vai avançada e o dia [do Cristo] aproxima-se. Renunciemos, portanto, às
obras das trevas, e revistamo-nos das armas da luz. 13Caminhemos honestamente como quem
anda em plena luz, não em excessos de comida ou de bebida, não em dissoluções e
impurezas, nem em contendas e emulações. 14Pelo contrário, revesti-vos1 do
Senhor Jesus Cristo.
1. Expressão que lembra outras do Antigo Testamento: revestir-se de pudor, de temor, de justiça...; não exteriormente, como quem veste uma roupa, mas por uma autêntica transformação interior.
Gradual / Salmo 24. 3-4
Gradual e
Aleluia, são cantos intercalares, por via de regra, tirados dos salmos e que traduzem
os devotos afetos produzidos na alma pela leitura da Epístola ou sugeridos pelo
Mistério do dia.
Univérsi,
qui te exspéctant, non confundéntur, Dómine. ℣.
Vias tuas, Dómine, notas fac mihi: et
sémitas tuas édoce me.
Todos
os que em Vós esperam, Senhor, não serão confundidos. ℣.
Indicai-me, Senhor, os vossos
caminhos, e ensinai-me as vossas veredas.
Aleluia / Salmo 84. 8
Allelúia,
allelúia. ℣. Osténde nobis, Dómine, misericórdiam
tuam: et salutáre tuum da nobis. Allelúia.
Aleluia,
aleluia. ℣. Mostrai-nos, Senhor, a vossa
misericórdia, e dai-nos a vossa salvação. Aleluia.
Evangelho segundo São Lucas 21. 25-33
Proclamação
solene da Palavra de Deus. Ponto culminante desta primeira parte da Missa, a
leitura ou canto do Evangelho, é revestida da maior solenidade. O respeito para
com ele, exige seja escutado de pé.
Os sinais precursores do fim dos tempos serão também os da nossa
libertação e da vinda do Reino: «O próprio Deus viverá com eles. Enxugar-lhes-á
as lágrimas e não haverá mais nem morte, nem luto, nem gemidos, nem dor, porque
a existência primeira terá findado» (Apocalipse 21.4).
In
illo témpore: Dixit Iesus discípulis suis: Erunt signa in sole et luna et
stellis, et in terris pressúra géntium præ confusióne sónitus maris et
flúctuum: arescéntibus homínibus præ timóre et exspectatióne, quæ supervénient
univérso orbi: nam virtútes cælórum movebúntur. Et tunc vidébunt Fílium hóminis
veniéntem in nube cum potestáte magna et maiestáte. His autem fíeri
incipiéntibus, respícite et leváte cápita vestra: quóniam appropínquat
redémptio vestra. Et dixit illis similitúdinem: Vidéte ficúlneam et omnes árbores:
cum prodúcunt iam ex se fructum, scitis, quóniam prope est æstas. Ita et vos,
cum vidéritis hæc fíeri, scitóte, quóniam prope est regnum Dei. Amen, dico
vobis, quia non præteríbit generátio hæc, donec ómnia fiant. Cælum et terra
transíbunt: verba autem mea non transíbunt.
Naquele
tempo, disse Jesus a seus discípulos: 25Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas; e na
terra consternação dos povos por causa da confusão do bramido do mar e das
ondas, 26mirrando-se
os homens de susto, na expectativa do que sobrevirá a todo o orbe, porque, os
poderes dos céus2 se
abalarão. 27Então,
ver-se-á o Filho do homem vindo sobre uma nuvem com grande poder e
majestade. 28Quando
estas coisas começarem a acontecer, olhai para cima e erguei vossas cabeças,
porque, se aproxima a vossa redenção. 29E contou-lhes, depois, uma parábola: Vede a
figueira e as demais árvores; 30quando começam a dar fruto, sabeis que o verão está
perto. 31Assim
também, quando virdes que se realizam estas coisas, sabei que perto está o
Reino de Deus. 32Em
verdade, vos digo que não passará esta geração, sem que isto aconteça. 33Passará o céu e a terra, porém, as
minhas palavras não passarão.
2. Os astros.
CREDO... Concluímos a Ante-Missa com essa
profissão de fé.
Breve
compêndio das verdades cristãs e Símbolo da fé católica. Com a Igreja,
afirmemo-las publicamente e renovemos a profissão de fé que fizemos no Batismo.
Ofertório / Salmo 24. 1-3
Com o
Ofertório, começa a segunda parte da Missa ou Sacrifício propriamente dito.
Ad
te levávi ánimam meam: Deus meus, in te confído, non erubéscam: neque irrídeant
me inimíci mei: étenim univérsi, qui te exspéctant, non confundéntur.
A Vós
elevo a minha alma; ó meu Deus, em Vós confio; não serei envergonhado. Não se
riam de mim os meus inimigos, porque, todos os que em Vós esperam, não serão
confundidos.
Secreta
É a
antiga «oração sobre as oblatas», ponto de ligação entre o Ofertório e o Cânon.
Hæc
sacra nos, Dómine, poténti virtúte mundátos ad suum fáciant purióres veníre
princípium. Per Dominum nostrum Iesum Christum, Filium tuum: qui tecum vivit et
regnat in unitate Spiritus Sancti Deus, per omnia saecula saeculorum.
Fazei,
Senhor, que, purificados pela poderosa força destas santas ofertas, mereçamos
chegar mais puros Àquele que é delas o princípio. Por Nosso Senhor Jesus
Cristo.
Communio / Salmo 84.13
Alternando
com o canto dum salmo, acompanhava (e ainda hoje pode acompanhar) a comunhão
dos fiéis.
Dóminus
dabit benignitátem: et terra nostra dabit fructum suum.
O Senhor
dará a sua bênção, e nossa terra dará o seu fruto.
Postcommunio
Súplica a
Deus para que nos conceda os frutos do Sacrifício.
Suscipiámus,
Dómine, misericórdiam tuam in médio templi tui: ut reparatiónis nostræ ventúra
sollémnia cóngruis honóribus præcedámus. Per Dominum nostrum Iesum Christum.
Fazei,
Senhor, que possamos receber a vossa misericórdia no meio de vosso templo, a
fim de nos prepararmos com o devido respeito para a solenidade de nossa
redenção que se aproxima. Por Nosso Senhor Jesus Cristo.
Meditação
O senhor vem de longe
O Senhor está prestes a chegar. Ponho-me na Sua presença para sair ao
Seu encontro com todo o ardor da minha vontade.
1 – «Eis o nome do Senhor que vem de
países distantes... Olhando ao longe, vejo o poder de Deus que aí vem... Ide ao
Seu encontro e dizei-lhe: Declarai-nos se Vós sois Aquele que há de reinar...» –
diz a liturgia do dia: Depois como que em resposta, faz-nos este convite:
«Vinde, adoremos o Rei, o Senhor que está para chegar...» (BR.)
Esta vinda foi esperada durante
séculos e séculos, anunciada pelos profetas, desejada pelos justos, que não
puderam contemplar a sua aurora. Em cada novo Advento, a Igreja comemora e
renova esta espera, manifestando as suas ânsias pelo Salvador que há de vir.
Porém, o antigo anelo que unicamente se fundava na esperança, transformou-se em
desejo confiante, que se apoia na consoladora realidade da redenção já
efetuada. Cumprida esta historicamente, há vinte séculos, deve atualizar-se e
renovar-se todos os dias, na alma cristã, como uma realidade cada vez mais
profunda e completa. O espírito litúrgico do Advento, ao comemorar a grande
expectativa dos séculos, que invocaram o Redentor, quer preparar-nos para a
celebração do mistério do Verbo feito carne, mediante a esperança íntima e
pessoal duma nova vinda de Cristo a cada uma das nossas almas. Vinda que se
realiza por meio da graça e que, à medida que esta se desenvolve e amadurece,
se torna mais abundante e mais avassaladora a ponto de transformar a alma num alter
Christus. O Advento é tempo de esperança, tempo de anelante aspiração pelo
Redentor. «Mandai, ó céus, lá do alto o vosso orvalho e que as nuvens chovam o
justo!» (BR.)
2 – Na Epístola do dia, (Rom. 13, 11-14),
São Paulo exorta-nos: «É já hora de nos levantarmos do sono». No Advento,
«primavera» da Igreja, devemos despertar para dar novos frutos de santidade; e
desde já o Apóstolo nos indica qual deve ser o fruto principal do Advento:
«Deixemos, pois, as obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz...
Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo». Se as nossas almas se encontram um pouco
adormecidas no serviço do Senhor, é justamente o momento de despertar para uma
vida nova, de nos despojarmos generosamente das nossas misérias e fraquezas, a
fim de «nos revestirmos de Jesus Cristo», ou seja, da Sua santidade. Para nos
ajudar a alcançar este fim, Jesus estimula-nos por meio da lembrança da Sua
doce vinda como Redentor e vem ao nosso encontro com a Sua graça: é a misericórdia
infinita que desce até nós.
Por outro lado, a Igreja, no
Evangelho de hoje, (Lc. 21, 25-33), oferece à nossa consideração a vinda final de
Jesus Cristo como Juiz supremo: «Então verão o Filho do Homem vir sobre uma
nuvem com grande poder e majestade». Vinda de amor a Belém, vinda de graça às
nossas almas, vinda de justiça no fim dos séculos; tríplice vinda de Cristo,
síntese do Cristianismo, convite a uma espera vigilante e confiada: «Olhai e
levantai as vossas cabeças, porque está próxima a vossa redenção».
MADALENA,
Padre Gabriel de Santa Maria. Intimidade Divina. 2. ed.
Porto: Edições Carmelitanas, 1967, p. 21-22.
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