«Liturgia
Dominical»
Ano 11 – nº
579 – 23 de janeiro de 2022
† 3º Domingo depois
da Epifania
verde – 2ª classe.
Neste domingo continua a manifestação do caráter
real de Jesus e de seu poder misterioso. Ele domina sobre as doenças.
Estendendo a mão poderosa de sua Majestade (Oração), a lepra desaparece e o
servo fica curado. Ora, nós éramos doentes como o leproso e o servo. No Batismo
e no Sacramento da Penitência, Jesus estendeu a mão e operou a cura milagrosa
de nossa alma. Com os miraculados do Evangelho, podemos cantar no Ofertório:
Não morrerei, mas viverei. Entretanto, este júbilo só terá valor, se a nossa
gratidão se manifestar também pela vida moldada no ideal que nos propõe a
Epístola. Eis a verdadeira vida dos batizados, dos curados da lepra do pecado.
«Em verdade, eu vos digo que não encontrei tamanha fé em Israel» Ev.
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Intróito / ADORÁTE DEUM – Salmo 96. 7-8, 1
O Intróito como que enuncia o tema geral da Missa ou solenidade do dia.
Canto solene de entrada, o Introito como que enuncia o tema geral da
Missa ou solenidade do dia. Compunha-se antigamente duma antífona e de um
salmo, que se cantava por inteiro. Hoje o salmo está reduzido a um só versículo.
Adoráte Deum, omnes Angeli eius: audívit, et lætáta
est Sion: et exsultavérunt fíliæ Iudæ. Ps. Dóminus regnávit, exsúltet terra:
læténtur ínsulæ multæ. ℣. Glória Patri.
Adorai a Deus1, todos os seus Anjos. Sião ouve e se alegra.
Exultam as filhas de Judá. Sl. O Senhor é Rei: exulte a terra e alegrem-se as
muitas ilhas. ℣. Glória ao Pai.
1 A epístola aos Hebreus (1.6) interpreta estas palavras como
ordem, dada aos anjos, de adorar o Verbo Encarnado – afirmação da
transcendência divina de Jesus.
Oração (Colecta)
Pedimos ao Senhor aquilo de que precisamos nesse dia para a nossa
salvação.
Numa breve oração, o celebrante resume e apresenta a Deus os votos de
toda a assembleia, votos estes sugeridos pelo mistério ou solenidade do dia.
Omnípotens sempitérne Deus, infirmitatem nostram
propítius réspice: atque, ad protegéndum nos, déxteram tuæ maiestátis exténde. Per
Dominum nostrum Iesum Christum.
Onipotente e eterno Deus, olhai propício para a
nossa fraqueza, e em nossa proteção estendei a Destra de vossa Majestade. Por
Nosso Senhor Jesus Cristo.
Epístola de São Paulo Apóstolo aos Romanos 12. 16-21
Interpretação prática do mandamento do Senhor: amai-vos uns aos outros;
amai os vossos inimigos, fazei bem àqueles que vos odeiam.
Fratres: Nolíte esse prudéntes apud vosmetípsos:
nulli malum pro malo reddéntes: providéntes bona non tantum coram Deo, sed
étiam coram ómnibus homínibus. Si fíeri potest, quod ex vobis est, cum ómnibus
homínibus pacem habéntes: Non vosmetípsos defendéntes, caríssimi, sed date
locum iræ. Scriptum est enim: Mihi vindícta: ego retríbuam, dicit Dóminus. Sed
si esuríerit inimícus tuus, ciba illum: si sitit, potum da illi: hoc enim
fáciens, carbónes ignis cóngeres super caput eius. Noli vinci a malo, sed vince
in bono malum.
Irmãos: 16Não
pretendais ser sábios aos vossos próprios olhos. 17Não torneis a ninguém mal por mal. Cuidai em fazer
o bem, não só diante de Deus, como também diante de todos os homens. 18Se for possível, quanto depender de vós, vivei em
paz com todos os homens. 19Caríssimos, não vos vingueis a vós
mesmos; antes, dai lugar à ira [de Deus], pois está escrito: A mim pertence a
vingança: eu retribuirei2, diz o Senhor. 20Pelo contrário: se teu inimigo tiver fome, dá-lhe
de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber. Porque, fazendo isto, amontoarás
carvões em brasa sobre a sua cabeça3. 21Não
te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem.
2 Deuteronômio 32.35
3 Provérbios 25.21-22.
Gradual / Salmo 101. 16-17
Cantos, por via de regra, tirados dos Salmos e que traduzem os devotos
afetos produzidos na alma pela leitura da Epístola ou sugeridos pelo Mistério
do dia.
Timébunt gentes nomen tuum, Dómine, et omnes reges
terræ glóriam tuam. ℣. Quóniam ædificávit Dóminus Sion, et vidébitur in
maiestáte sua.
As nações temem o vosso Nome, Senhor, e todos os
reis da terra, a vossa glória. ℣. Porque o Senhor edificou Sião, e se manifesta
em sua Majestade.
Aleluia / Salmo 96. 1
«Aleluia» é um grito de júbilo, que significa: «louvai ao Senhor».
Allelúia, allelúia. ℣. Dóminus regnávit, exsúltet terra: læténtur ínsulæ
multæ. Allelúia.
Aleluia, aleluia. ℣. O Senhor é Rei; exulte a terra; e alegrem-se as
muitas ilhas. Aleluia.
Evangelho segundo
São Mateus 8. 1-13
Ninguém é excluído da salvação, que Jesus trouxe ao mundo. Os Israelitas
deveriam ser os primeiros a beneficiar dela. Mas todos os povos têm acesso a
ela, todos os crentes, venham eles donde vierem.
In illo témpore: Cum descendísset Iesus de monte,
secútæ sunt eum turbæ multæ: et ecce, leprósus véniens adorábat eum, dicens:
Dómine, si vis, potes me mundáre. Et exténdens Iesus manum, tétigit eum,
dicens: Volo. Mundáre. Et conféstim mundáta est lepra eius. Et ait illi Iesus:
Vide, némini díxeris: sed vade, osténde te sacerdóti, et offer munus, quod
præcépit Móyses, in testimónium illis. Cum autem introísset Caphárnaum,
accéssit ad eum centúrio, rogans eum et dicens: Dómine, puer meus iacet in domo
paralýticus, et male torquetur. Et ait illi Iesus: Ego véniam, et curábo eum.
Et respóndens centúrio, ait: Dómine, non sum dignus, ut intres sub tectum meum:
sed tantum dic verbo, et sanábitur puer meus. Nam et ego homo sum sub potestáte
constitútus, habens sub me mílites, et dico huic: Vade, et vadit; et alii:
Veni, et venit; et servo meo: Fac hoc, et facit. Audiens autem Iesus, mirátus
est, et sequéntibus se dixit: Amen, dico vobis, non inveni tantam fidem in
Israël. Dico autem vobis, quod multi ab Oriénte et Occidénte vénient, et
recúmbent cum Abraham et Isaac et Iacob in regno cælórum: fílii autem regni
eiiciéntur in ténebras exterióres: ibi erit fletus et stridor déntium. Et dixit
Iesus centurióni: Vade et, sicut credidísti, fiat tibi. Et sanátus est puer in
illa hora.
Naquele tempo, 1havendo Jesus
descido do monte, grande multidão de povo O seguiu. 2E eis que, vindo um leproso, adorava-O, dizendo:
Senhor, se quiserdes, bem me podeis limpar. 3Jesus, estendendo a
mão, tocou-o e disse: Quero, sê limpo. E logo sarou-lhe a lepra. 4Então Jesus lhe disse: Olha, não o digas a ninguém,
mas vai mostrar-te ao sacerdote4, e faze a oferta que Moisés ordenou, para que lhes
conste. 5Tendo, depois, entrado Jesus em
Cafarnaum, aproximou-se d’Ele um centurião5 com uma súplica: 6Senhor, um servo meu jaz em casa paralítico,
gravemente atormentado. 7Jesus disse-lhe: Eu irei e o curarei.
8Respondeu o centurião, dizendo: Senhor, eu não sou
digno de que entreis em minha casa, mas dizei uma só palavra e o meu servo será
curado. 9Pois, também eu sou um homem sujeito
a outros; tenho soldados às minhas ordens, e digo a um: Vai, e ele vai. E a
outro: Vem, e ele vem. E a meu servo: faze isto, e ele o faz. 10Ouvindo isto, Jesus admirou-se e disse aos que O
seguiam: Em verdade, eu vos digo que não encontrei tamanha fé em Israel. 11Digo-vos outrossim: Muitos virão do Oriente e do
Ocidente e se assentarão com Abraão, Isaac e Jacó, no Reino dos céus6; 12mas
os filhos do reino7 serão lançados nas trevas
exteriores, onde haverá choro e ranger de dentes. 13E Jesus disse ao centurião: Vai, e como creste,
assim te seja feito. E naquela mesma hora o servo ficou curado.
4 O leproso curado devia fazer verificar a sua cura pelo sacerdote, que
o autorizava a retomar as suas relações com a sociedade, de que a doença o
excluíra.
5 Oficial subalterno, que comandava um grupo de 100 homens.
6 Desde há muito, a felicidade dos tempos messiânicos comparava-se a um
banquete.
7 «Os filhos do reino»: aqueles que reivindicam a herança do reino como
um direito, que lhes é devido pela simples pertença ao povo escolhido.
CREDO... Concluímos a Ante-Missa com essa
profissão de fé.
Breve compêndio das verdades cristãs e Símbolo da fé católica. Com a
Igreja, afirmemo-las publicamente e renovemos a profissão de fé que fizemos no
Batismo.
Ofertório / Salmo 117. 16-17
Com o Ofertório, começa a segunda parte da Missa ou Sacrifício
propriamente dito.
Com o Ofertório, começa a segunda parte da Missa ou Sacrifício propriamente
dito. Três elementos o constituíam antigamente: apresentação das oferendas,
canto de procissão, oração sobre as oblatas.
Déxtera Dómini fecit virtutem, déxtera Dómini
exaltávit me: non móriar, sed vivam, et narrábo ópera Dómini.
A Destra do Senhor mostra o seu poder; a Destra do
Senhor me exalta; não morrerei, mas viverei e cantarei as obras do Senhor.
Secreta
É a antiga «oração sobre as oblatas», ponto de ligação entre o Ofertório
e o Cânon.
É neste último que se faz propriamente a oblação do sacrifício.
Hæc hóstia, Dómine, quǽsumus, emúndet nostra
delícta: et, ad sacrifícium celebrándum, subditórum tibi córpora mentésque
sanctíficet. Per Dominum nostrum Iesum Christum.
Pedimos, Senhor, que esta hóstia nos purifique de
nossos delitos e santifique os corpos e as almas de vossos servos, para
dignamente celebrarem este Sacrifício. Por Nosso Senhor Jesus Cristo.
Communio / Lucas 4. 22
Alternando com o canto dum salmo, acompanhava (e ainda hoje pode
acompanhar) a comunhão dos fiéis.
Nas Missas cantadas, se canta, enquanto o sacerdote toma as abluções e
recita as orações seguintes em que se pedem para a alma os frutos da Comunhão.
Mirabántur omnes de his, quæ procedébant de ore Dei.
Todos se admiravam das palavras que saíam da boca de
Deus.
Postcommunio
Súplica a Deus para que nos conceda os frutos do Sacrifício.
Quos tantis, Dómine, largíris uti mystériis:
quǽsumus; ut efféctibus nos eórum veráciter aptáre dignéris. Per Dominum
nostrum Iesum Christum.
Senhor, já que nos concedeis participar de tão
grandes Mistérios, pedimos que Vos digneis fazer-nos verdadeiramente
merecedores de seus efeitos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo.
Meditação
Jesus Acolhe a Todos
Ó divino Salvador, também eu sou um pobre leproso; acolhei-me: «Se
quiserdes, podeis curar-me»!
1 – O Evangelho de hoje (Mt. 8, 1-13), apresenta-nos dois milagres de
Jesus, que são profundas lições de humildade, de fé e de caridade.
Eis a fé humilde do leproso: «Senhor,
se tu queres, podes curar-me». Tão certo está de que Jesus o pode curar, que
não vê outra condição para a sua cura senão a Sua vontade. A fé cristã não se
perde em sutis raciocínios, é duma lógica simplicíssima: Deus pode fazer tudo o
que quer; basta pois que o queira. E o leproso nem sequer insiste para que
Jesus queira; quem vive de fé sabe que a vontade de Deus é sempre o melhor para
nós, ainda que nos deixe no sofrimento, e portanto, em vez de insistir, prefere
abandonar-se ao Divino beneplácito.
Vem depois o centurião; o soberbo e
poderoso soldado romano não se envergonha de ir pessoalmente suplicar a Jesus,
um galileu, pelo seu servo paralítico; Jesus, comovido por este ato de
humildade e caridade, responde imediatamente: «eu irei e o curarei». Então o
centurião replica: «eu não sou digno de que entres na minha casa; dize, porém,
uma só palavra, e o meu servo ficará curado»; a humildade torna-se ainda mais
profunda e a fé atinge o máximo; não é necessário que o Senhor Se desloque, o
Seu poder é tão grande que basta uma palavra Sua pronunciada à distância para
realizar qualquer milagre. O próprio Jesus «admirou-se» e disse: «Em verdade
vos digo: não achei fé tão grande em Israel». Não é isto uma queixa do Salvador
contra aqueles que vivem tão perto dEle, talvez em Sua casa, recebendo
contínuos benefícios, e cuja fé é muitas vezes fraca e por isso ineficaz?
2 – Segundo a lei hebraica, os
leprosos viviam separados da sociedade e ninguém podia aproximar-se deles; dos
pagãos também se devia fugir porque não pertenciam ao povo eleito. Jesus
infringe a velha lei e em nome da caridade universal acolhe e limpa o leproso,
ouve o centurião estrangeiro e cura o servo pagão. Ensina assim a não fazer
acepção de pessoas e a não desprezar os pecadores e infiéis, mas a acolher
todos com amorosa benevolência. Jesus ensina-nos a não fechar, mas a abrir bem
as portas a todos, e a todos beneficiar sem diferença de partidos ou ideias;
todos são, como nós, filhos de Deus e, assim como a todos se estende a
misericórdia do Pai celeste, também a todos se deve estender a nossa caridade.
Esta ideia predomina na Epístola de hoje (Rom. 12, 16-21) em que São Paulo nos exorta ao exercício da
caridade, particularmente para com aqueles que nos são contrários. «Não torneis
a ninguém mal por mal... Tanto quanto depende de vós tende paz com todos os
homens; não vos vingueis a vós mesmos... Antes, se o teu inimigo tem fome,
dá-lhe de comer... Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem».
Jesus venceu o mal, tanto físico como
moral, com a misericórdia, com o amor, curando e fazendo bem a todos. Esta deve
ser a nossa tática; qualquer que seja o mal que nos rodeia e faz sofrer, nunca
o venceremos com discussões, contendas ou posições tomadas e defendidas à
força; mas somente com uma delicada caridade capaz de compreender por intuição,
a mentalidade, os gostos, as necessidades dos outros, de intervir no momento
oportuno, de condescender, de se sacrificar sempre pelo bem de qualquer pessoa,
embora nos seja hostil.
MADALENA,
Padre Gabriel de Santa Maria. Intimidade Divina. 2. ed.
Porto: Edições Carmelitanas, 1967, p. 222-224.
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