sábado, 31 de janeiro de 2015

São João Bosco

31 de janeiro

S. João Bosco, Confessor
São João Bosco
       Fundador da Pia Sociedade de
      São Francisco de Sales
( 1888)
Decreto Pontifício
São João Bosco — Do Decreto de “Tuto” de 3-12-1933. — “Boletim Salesiano”, Março, 1934.

No decorrer do século XIX, quando por toda a parte che­gavam à maturação os venenosos frutos de destruição da Sociedade Cristã, cujos germes haviam sido tão largamente disseminados pelo século anterior, a Igreja principal­mente na Itália, viu-se à mercê de muitas procelas contra si levanta­das, nesses tristes tempos, pela mal­dade dos homens. Contemporaneamente, porém, a misericórdia divi­na enviou, para auxílio de sua Igre­ja, válidos campeões para que evi­tassem a extrema ruina e conser­vassem entre o nosso povo a mais preciosa das heranças recebidas dos Apóstolos — a fé genuina de Cristo.
De fato, no meio das dificuldades daqueles tempos, surgiram entre nós homens de ilibadíssima santi­dade e, mercê de sua prodigiosa atividade, nenhum assalto dos inimigos logrou desmantelar as muralhas de Israel.
Sobressai entre os demais, por elevação de espírito e grandeza de Obras, o Bem-aventurado João Bos­co, que, no tristíssimo evoluir dos tempos, se constituiu, durante o século passado, qual marco miliário apontando aos povos o caminho da salvação. Porquanto, “Deus o suscitou para justiça”, segundo a expressão de Isaias, “e dirigiu todos os seus passos”. E, na verdade, o Bem-aventurado João Bosco, por virtude do Espírito Santo, resplandeceu diante de nós como modelo de Sacerdote feito segundo o coração de Deus, como educador inigualável da juventude, como fundador de novas famílias religiosas e como propagador da fé.
De humilde condição, nasceu João Bosco numa casa campestre, perto de “Castelnuovo d’Asti”, de Francisco e Margarida Occhiena, pobres mas virtuosos cristãos, aos 16 de agosto de 1815. Tendo perdido o pai na tenra idade de dois anos, cresceu na piedade sob a sábia e santa guia materna. Desde menino resplandeceu nele uma indole excelente, a que andavam unidas grande agudeza de engenho e tenacidade de memória, aprendendo num instante quanto lhe era ensinado pelos mestres, primando sempre, sem contestação, nas classes, pela rapidez no aprender e facilidade de intuição.
Depois de alguns anos de áspera e laboriosa pobreza, que lhe robusteceu a fibra, preparando-o para as mais árduas provas, com o consentimento da mãe e recomendação do bem-aventurado José Cafasso, entrou para o Seminário de Chieri, onde, por espaço de seis anos, se dedicou, com ótimo aproveitamento, aos estudos. Recebeu, finalmente, a ordenação sacerdotal, em Turim, aos 5 de junho de 1841.
Poucos meses após, admitido no Colégio Eclesiástico de São Fran­cisco de Assis, sob a direção do Bem aventurado José Cafasso, exer­citou com grande vantagem das al­mas o ministério sacerdotal nos hospitais, nos cárceres, no confes­sionário e na pregação da palavra de Deus.
Formado assim neste exercicio prático do sagrado ministério, sen­tiu acender-se mais viva do que nunca em seu espírito a peculiar vocação alimentada por inspiração divina desde sua adolescência qual a de atender e dirigir para o bom caminho a juventude, particular­mente, a abandonada. Sua perspi­cácia havia já intuído de quanta utilidade devesse ser este meio para preservar a sociedade da ruina a que estava ameaçada, e, para a atuação de tal desígnio, dirigiu os esforços de seu nobre coração com tão felizes resultados que, entre os educadores cristãos contemporâ­neos, figura ele indubitavelmente em primeiro lugar.
O próprio nome de “Oratório” dado à sua instituição, faz-nos ver sobre quão firme base tenha cons­truído todo o edifício, isto é, sobre a doutrina e piedade cristã, sem a que baldada se torna qualquer ten­tativa para arrancar às paixões vi­ciosas o coração dos jovens e ende­reçá-lo para ideais mais nobres. Nis­to, porém, usava ele tanta doçura que os jovens quase que espontaneamente sorviam e amavam a pie­dade, não já constrangidos, mas por verdadeira convicção, e uma vez ganho seu afeto levá-los-ia sem dificuldade para o bem.
A fim de perpetuar a existência de sua obra e prover assim mais efi­cazmente à educação juvenil, ani­mado pelo Bem-aventurado José Cafasso e pelo Papa Pio IX, de santa memória, fundou a “Pia, Sociedade de São Francisco de Sales”, e, algum tempo depois, o “Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora”.
Hoje as duas famílias formam um conjunto de quase vinte mil membros, espalhados por todo o mundo em cerca de mil e quinhen­tas Casas. Milhares e milhares de crianças de ambos os sexos recebem sua formação literária e profissio­nal. Seus Filhos e Filhas também se encarregam, generosamente, da assistência aos enfermos e aos le­prosos, e alguns deles, contraindo esse terrível morbo, sucumbiram ví­timas de sua caridade. Dignos fi­lhos de tão grande Pai!
Nem deve passar despercebida a instituição dos Cooperadores, isto é, uma associação de fiéis, em sua maioria leigos, que, animados do mesmo espírito da Sociedade Salesiana e como essa dispostos a qual­quer obra de caridade, tem por es­copo, prestar, segundo as circuns­tâncias, válido auxílio aos párocos, aos Bispos e ao mesmo Sumo Pon­tífice. Primeiro e notável ensaio de “Ação Católica!” A associação foi aprovada por Pio IX e, em vida ainda do Bem-aventurado João Bosco, alcançou a cifra de oitenta mil sócios.
Mas, o zelo das almas, que lhe ar­dia no peito, não se limitou tão so­mente ao círculo das nações católi­cas; alargando os horizonte de sua caridade, enviou os missionários de sua família religiosa à conquista dos gentios para Cristo.
Aos primeiros que, chefiados por João Cagliero, de santa e gloriosa memória, se dedicaram a evangelização das extremas terras da Amé­rica Meridional, seguiram muitos e muitos outros salesianos que espa­lhados agora aqui e ali pelo mundo levam intrepidamente o cristianis­mo aos povos infiéis.
Quantas e quão grandes coisas tenha ele feito e padecido pela Igre­ja e pela tutela dos direitos do ro­mano Pontífice, seria difícil dizer-se. Pode-se aplicar, portanto, ao Bem-aventurado João Bosco, as pa­lavras que temos em Salomão: Deus lhe deu sapiência e prudência ex­tremamente grande, e magnanimi­dade imensurável como a areia que está na praia do mar. (3 Reg., 4, 29). Deu-lhe Deus sapiência, pois que, renunciando a todas as coisas terrenas, aspirou unicamente pro­mover a glória de Deus e a salvação das almas. Era seu mote: “Dai-me as almas e ficai-vos com o resto.”
Cultivou em grau supremo a hu­mildade; tornou-se insigne no espí­rito de oração, tendo a mente sem­pre unida a Deus, se bem parecesse continuamente distraída por uma multidão de afazeres.
Nutria extraordinária devoção para com Maria Santíssima Auxiliadora e experimentou inefável alegria quando pôde edificar em sua honra, na cidade de Turim, o céleb­re templo, do alto de cuja cúpula campeia a Virgem Auxiliadora, Mãe Rainha, sobre toda a Casa de Valdoco.
Morreu santamente no Senhor, em Turim, aos 31 de janeiro de 1888. Crescendo, dia a dia, sua fama de santidade, foram, pela Autoridade Ordinária, instaurados os processos; a Causa da Beatificação foi introduzida por Pio X, de santa memória, em 1907. A Beatificação foi depois solenemente celebrada na Basílica Vaticana, com regozijo de toda a Igreja, no dia 2 de junho de 1929.
Reencetada a Causa no ano seguinte, foram feitos os processos sobre duas curas que pareciam devessem ser atribuídas a milagre divino. Pelo decreto de 19 de novembro deste ano, foram aprovados os dois milagres operados por Deus e atribuídos à intercessão do Bem-aventurado.
Desfeita a última dúvida, isto é, se em vista da aprovação dos dois milagres, depois que a Santa Sé concedera culto público ao Bem venturado, se poderia proceder com segurança à sua solene Canonização. Esta dúvida foi proposta ao Eminentíssimo Cardeal Alexandre Verde, Ponente ou Relator da causa, na Congregação Geral da S. C dos Ritos, realizada em presença do Santo Padre no dia 28 de novembro. Todos os Eminentíssimos Cardeais presentes. Oficiais, prelados e Padres Consultores derem parecer unânime e afirmativo, parecer que o Santo Padre jubilosamente aceitou, deferindo todavia o seu juízo para o dia 3 de dezembro, primeira dominga do advento. Por­tanto, o Santo Padre, em 3 de de­zembro de 1933, dia também consa­grado a São Francisco Xavier, Pa­droeiro da Obra da Propagação da Fé, fez a solene declaração neste sentido. A canonização teve lugar a 1 de abril de 1934, no dia da Ressur­reição, último do Ano Santo da Re­denção, na presença de toda a Cor­te Pontifical, no meio de um es­plendor extraordinário, diante de perto de 300.000 pessoas.

REFLEXÕES

      São João Bosco é uma das figuras mais eminentes entre os Santos dos nossos dias. O bem que fez à família de Cristo na terra e com isto às almas, é extraordinário. A nota característica em sua vida e em sua obra é o zelo pelas almas. Outro interesse não conhecia, a não ser este: ganhar almas para o céu. Este zelo o fazia exclamar: “Dai-me al­mas, Senhor, com todo o mais podereis ficar”. No trabalho pela salvação das al­mas, se esquece de si próprio, sacrifica comodidade, conforto e saúde. É incan­sável. Dia e noite está ocupado com a realização do seu ideal: implantar nos corações dos jovens o amor a Cristo e à Mãe Santíssima. Seu apostolado, aben­çoado e acompanhado pela mãe, é gran­dioso e universal. Não há ramo da Ação Católica que a obra de João Bosco não abranja: ensino, doutrina, arte, carida­de e imprensa. Assim este grande Santo apresenta a personificação a mais com­pleta de Nosso Senhor em nossos dias. Sua vida ativa e contemplativa é a vida de Jesus Cristo em perfeita imitação. Demos graças a Deus por ter dado este grande apóstolo à Igreja Católica e peçamos-lhe a graça de, por intercessão do seu santo Servo, crescermos cada vez mais no amor a Jesus Cristo, a sua San­ta Igreja, e aumente-nos de dia para dia o zelo apostólico pela salvação das almas. Zelo pela salvação das almas não é virtu­de que somente aos sacerdotes deve per­tencer. 0 mandamento da caridade se dirige a todos, e a petição “venha a nós o vosso reino” do Padre Nosso fala-nos do dever que temos de trabalhar pela solidificação e propagação do reino de Deus sobre a terra. Os pais devem zelar pela santificação de seus filhos; os su­periores têm por obrigação promover a vida em Deus dos seus súditos. Cada es­tado tem deveres especiais, que se rela­cionam ao bem espiritual do próximo. Quem julga nada poder fazer pela salvação do próximo, faça uso da oração e edifique o próximo pelo bom exemplo. Quem diz não saber em que intenções deve rezar, ótimas indicações poderá encontrar nas intenções mensais do Apostolado da Oração, abençoadas pelo Santo Padre.
Extraído do Livro Na Luz Perpétua ­ — Pe. João Batista Lehmann
I. Volume – V Edição - 1959

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