(† 287)
Extraído do Livro Na Luz Perpétua — Pe. João Batista Lehmann
NASCIDO em Narbone, na Gália, recebeu Sebastião a educação em Milão, terra natal de
sua mãe. Cristão, nunca se envergonhou de sua religião. Vendo as grandes
tribulações que os cristãos sofriam, as perseguições atrozes de que eram
vítimas, alistou-se nas legiões do imperador, com a intenção de mitigar os
sofrimentos dos seus irmãos em Cristo. A figura imponente, a prudência e
bravura do jovem tanto agradaram ao imperador, que o nomeou comandante da
guarda imperial. Nesta posição elevada, Sebastião se tornou o grande benfeitor
dos cristãos encarcerados. Tendo entrada franca em todas as prisões, lá ia visitar as pobres
vítimas do rancor e ódio pagão, e com palavras e dádivas consolava e animava
os candidatos ao martírio. Dois
irmãos, Marco e Marceliano, não se acharam com coragem de afrontar os horrores
da tortura e, aconselhados pelos pais e parentes, resolveram-se a sacrificar
aos deuses. Mal teve ciência disto, Sebastião procurou-os e com sua palavra
cheia de fé, reanimou os desfalecidos e vacilantes, levando-os a perseverar na
religião e antes sacrificar tudo que negar a fé. Profunda comoção apoderou-se
de todos que assistiram a esta cena. Marco e Marceliano cobraram ânimo e
prometeram a Sebastião fidelidade na fé até à morte. Uma das pessoas presentes
era Zoé, esposa do funcionário imperial Nicostrato. Esta pobre mulher estava
muda há seis anos. Impressionada pelo que presenciara, prostrou-se aos pés de
Sebastião, procurando por sinais interpretar o que lhe desejava dizer.
Sebastião fez o sinal da Cruz sobre ela e imediatamente Zoé recuperou o uso da língua. Ela e o marido converteram-se ao
Cristianismo. Este exemplo foi imitado pelos pais de Marco e Marceliano, pelo
carcereiro Cláudio e mais dezesseis pessoas. Todos receberam o santo Batismo
das mãos do sacerdote Policarpo, na casa de Nicostrato.
A conversão destas
pessoas, em circunstâncias tão extraordinárias, chamou a atenção do prefeito
de Roma, Cromâncio. Sofrendo horrivelmente de reumatismo, e sabendo que o pai
de Marco e Marceliano pelo Batismo tinha ficado curado do mesmo mal, manifestou
o desejo de conhecer a religião cristã. Sebastião deu-lhe as instruções
necessárias, batizou-o, com seu filho, Tibúrcio e curou-o da doença. Tão grato
ficou Cromâncio, que pôs em liberdade os cristãos encarcerados seus escravos, e
renunciou ao cargo de prefeito. Retirando-se da cidade para sua casa de
campo, deu agasalho aos cristãos, acossados pela perseguição.
Esta recrudesceu
de uma maneira assustadora. O santo Papa Caio aconselhou os cristãos que se
sentiam com pouco ânimo de sofrer o martírio, que se retirassem da cidade
antes da tempestade se desecadear. O mesmo conselho deu a Sebastião. Este,
porém, nada disto quis saber e declarou preferir ficar em Roma, para animar e
defender irmãos nas grandes aflições. “Pois bem, meu filho — disse-lhe o Papa —
fica na arena da luta, representando o defensor da Igreja de Cristo, sob o
título de capitão imperial”.
Muito tempo não levou, e Diocleciano soube, por uns
cristãos apóstatas, que Sebastião era cristão e grandes serviços prestava aos
outros cristãos encarcerados. Diocleciano repreendeu-o, e apelou para os
sentimentos de honra de capitão, pois que tão mal agradecia os benefícios e
distinções recebidas, Sebastião com respeito, mas também com franqueza se defendeu,
apresentando os motivos que o determinaram a seguir a religião cristã e a
socorrer os pobres perseguidos. O
imperador, porém, insistiu na exigência, recorrendo a promessas elogios e
ameaças, para conseguir de Sebastião que abandonasse a religião de Cristo.
Todas as argumentações e tentativas de Diocleciano esbarraram de encontro à vontade
inflexível do militar. Sem mais delongas, deu ordem aos soldados que
amarrassem o chefe a uma árvore e o asseteassem. A ordem foi cumprida imediatamente. Os soldados
despiram-no, ataram-no a uma árvore e atiraram-lhe setas em tanta quantidade quanto acharam
necessárias, para matar um homem e deixaram a vítima neste mísero estado,
supondo-o morto.
Alta noite
chegou-se Irene, mulher do mártir Castulo, ao lugar da
execução, para tirar o corpo de
Sebastião e dar-lhe sepultura. Com grande admiração, encontrou-o ainda com
vida. Sem demora deu providências para que o fosse levado para sua casa, onde o
tratou com todo o desvelo.
Apenas
restabelecido, o herói procurou o imperador e, sem pedir audiência,
apresentou-se-lhe, acusando-o de grande injustiça, por condenar inocentes,
como eram os cristãos, a sofrer
e morrer. Diocleciano a princípio, não sabia o que pensar e dizer pois tinha
por certo que Sebastião não mais existia entre os vivos. Perguntando-lhe quem
era, Sebastião disse-lhe: “Sou Sebastião e do fato de eu estar vivo, devias concluir que é poderoso o Deus, a quem
adoro, e que não fazes bem em perseguir-lhe os servos”. Diocleciano
enfureceu-se com esta resposta e ordenou aos soldados que levassem a Sebastião
ao foro e lá, na presença de todo o povo, o matassem com paus e bolas de
chumbo. Os algozes cumpriram também esta ordem e, para subtrair o cadáver à
veneração dos cristãos, atiraram-no à cloaca máxima. Uma
piedosa mulher, Santa Luciana, porém, achou-o, e tirou-o da imundície, e
sepultou-o aos pés de S. Pedro e S. Paulo. Assim
aconteceu em 287. Mais tarde, no ano de 680, as relíquias foram solenemente
transportadas para uma basílica, construída por Constantino. Naquela ocasião grassava em Roma a
peste, que vitimou muita gente. A terrível epidemia desapareceu na hora daquela
transladação, e esta é a razão por que os cristãos veneram em São Sebastião o
grande padroeiro contra a peste. Em outras ocasiões se verificou o mesmo fato;
assim no ano de 1575 em Milão, e 1599 em Lisboa, ficando estas duas cidades
livres da peste pela intercessão do glorioso mártir São Sebastião.
REFLEXÕES — São
Sebastião vivia no meio de pagãos. Soldados e oficiais do exército romano eram
sua companhia quotidiana. Inabalável na fé, não se deixava influir pelas
opiniões sarcasmos, críticas e calúnias daqueles que não eram cristãos. O mundo
contemporâneo tem muitos sinais característicos do paganismo. Difícil é para
um católico, que pela posição social deve estar em contato contínuo com os
pagãos modernos, conservar-se firme na fé e nos bons costumes. Muitos
transigem, não achando força bastante para resistir às tentações perturbadoras,
ou para enfrentar opiniões e ataques contra a religião. Preferem curvar-se,
intimidados pelo respeito humano. Não imites este exemplo. Se todos forem
adorar os bezerros de ouro, deves ir a Jerusalém, para adorar teu Deus, como
fez o piedoso Tobias, que forçosamente havia de viver entre os infiéis. Se os
outros querem trilhar o caminho do pecado, fica firme na prática da virtude,
ou dize com o virtuoso Matatias “Ainda que todas as gentes obedeçam ao rei
Antíoco, de tal sorte que cada um se aparte do jugo da lei do país e consinta
nos mandamentos do rei: Eu e meus filhos e meus irmãos obedeceremos à lei do
nosso país. Deus de tal sorte nos defenda: nenhuma conveniência temos em
deixar a lei, e as ordenanças de Deus”. (I. Mach. 2, 19).Aqueles que vivem
desregradamente, não te defenderão perante Deus; e este mandou positivamente:
“Não seguirás a multidão dos homens para praticar o mal”. (2 Mos. 23, 2). “Vive
com poucos” — diz S. Crisóstomo, “se com poucos queres salvar-te”.
Santos, cuja memória é celebrada hoje:
Em Roma. S. Fabião, Papa e Mártir. Seu
corpo foi depositado nas catacumbas de São Calixto.250.
Em Nicéia (Ásia Menor) São Neófito: Sofreu
o martírio na idade de 15 anos.
Na Palestina Santo Eutímio, abade.
Extraído do Livro Na Luz Perpétua — Pe. João Batista Lehmann
I.
Volume – V Edição - 1959.
[1] São Sebastião
— At. Mártir. Boland. 2. Jan. Tillemont tom. 4. p. 551. As atas originais da
vida de São Sebastião se perderam. Uma biografia deste Santo, que relata o seu
Martírio, composta no séc. 5, contém fatos legendários e inverossímeis, por
exemplo, este de São Sebastião, sendo oficial
da guarda imperial, ter sido flechado no Coliseu e morto a pauladas.
Milão e Narbone disputam a honra de serem a pátria do Santo; a
família de São Sebastião é de origem milanesa. Na Igreja de São Pedro ad
Vincula em Roma existe um mosaico antiquissimo, que apresenta São Sebastião de
barba branca em trajes palaciais e com nimbo; no tempo da Renascença começou-se
a apresentar o Santo como jovem, quase nú e traspassado de flechas. Na Igreja
de São Pedro ad Vincula em Roma se conserva a coluna, na qual São Sebastião
exalou seu espírito. Na Igreja de São Sebastião, em Veneza, há um ciclo de quadros da vida do
Santo. Na Galeria Pitti, em Florença, há um quadro que mostra São Sebastião
fazendo a Deus oferta de flechas. Cf. F. de Sales Doyé II. vol. de “Heilige und
Selige der roem. kath. Kirche”. 1929. Leipzig.
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