sábado, 17 de janeiro de 2015

São Sebastião

( 287)

NASCIDO em Narbone, na Gália, recebeu Sebastião a educação em Milão, terra natal de sua mãe. Cristão, nunca se envergonhou de sua religião. Vendo as grandes tribulações que os cristãos sofriam, as perseguições atrozes de que eram vítimas, alistou-se nas legiões do imperador, com a intenção de mitigar os sofrimentos dos seus irmãos em Cristo. A figura imponente, a prudência e bravura do jovem tanto agradaram ao imperador, que o nomeou comandante da guarda imperial. Nesta posição ele­vada, Sebastião se tornou o grande benfeitor dos cristãos encarcerados. Tendo entrada franca em todas as prisões, lá ia visitar as pobres vítimas do rancor e ódio pagão, e com palavras e dádivas consolava e ani­mava os candidatos ao martírio. Dois irmãos, Marco e Marceliano, não se acharam com coragem de afrontar os horrores da tortura e, aconselhados pelos pais e parentes, resolveram-se a sacrificar aos deu­ses. Mal teve ciência disto, Sebas­tião procurou-os e com sua palavra cheia de fé, reanimou os desfalecidos e vacilantes, levando-os a perseverar na religião e antes sacrifi­car tudo que negar a fé. Pro­funda comoção apoderou-se de todos que assistiram a esta cena. Marco e Marceliano co­braram ânimo e prometeram a Sebastião fidelidade na fé até à morte. Uma das pessoas presentes era Zoé, esposa do funcionário imperial Nicostrato. Esta pobre mulher estava muda há seis anos. Impressio­nada pelo que presenciara, prostrou-se aos pés de Sebas­tião, procurando por sinais interpretar o que lhe desejava dizer. Sebastião fez o sinal da Cruz sobre ela e imediata­mente Zoé recuperou o uso da língua. Ela e o marido con­verteram-se ao Cristianismo. Este exemplo foi imitado pe­los pais de Marco e Marcelia­no, pelo carcereiro Cláudio e mais dezesseis pessoas. Todos receberam o santo Batismo das mãos do sacerdote Policarpo, na casa de Nicostrato. 
A conversão destas pessoas, em circunstâncias tão extra­ordinárias, chamou a atenção do prefeito de Roma, Cromâncio. Sofrendo horrivelmente de reumatismo, e sabendo que o pai de Marco e Marceliano pelo Batismo tinha ficado curado do mesmo mal, manifes­tou o desejo de conhecer a religião cristã. Sebastião deu-lhe as instruções necessárias, batizou-o, com seu filho, Tibúrcio e curou-o da doença. Tão grato ficou Cromâncio, que pôs em liberdade os cristãos encarcerados seus escravos, e re­nunciou ao cargo de prefeito. Re­tirando-se da cidade para sua casa de campo, deu agasalho aos cris­tãos, acossados pela perseguição.
Esta recrudesceu de uma manei­ra assustadora. O santo Papa Caio aconselhou os cristãos que se sen­tiam com pouco ânimo de sofrer o martírio, que se retirassem da cidade antes da tempestade se desecadear. O mesmo conselho deu a Sebastião. Este, porém, nada disto quis saber e declarou preferir ficar em Roma, para animar e defender irmãos nas grandes aflições. “Pois bem, meu filho — disse-lhe o Papa — fica na arena da luta, re­presentando o defensor da Igreja de Cristo, sob o título de capitão imperial”.
Muito tempo não levou, e Diocleciano soube, por uns cristãos apóstatas, que Sebastião era cristão e grandes serviços prestava aos outros cristãos encarcerados. Diocleciano repreendeu-o, e apelou para os sentimentos de honra de capitão, pois que tão mal agradecia os benefícios e distinções recebidas, Sebastião com respeito, mas também com franqueza se defendeu, apresentando os motivos que o determinaram a seguir a religião cristã e a socorrer os pobres perseguidos. O imperador, porém, insistiu na exigência, recorrendo a promessas elogios e ameaças, para conseguir de Sebastião que abandonasse a religião de Cristo. Todas as argumentações e tentativas de Diocleciano esbarraram de encontro à vontade inflexível do militar. Sem mais delongas, deu ordem aos solda­dos que amarrassem o chefe a uma árvore e o asseteassem. A ordem foi cumprida imediatamente. Os soldados despiram-no, ataram-no a uma árvore e atiraram-lhe setas em tanta quantidade quanto acharam necessárias, para matar um homem e deixaram a vítima neste mísero estado, supondo-o morto.
Alta noite chegou-se Irene, mulher do mártir Castulo, ao lugar da execução, para tirar o corpo de Sebastião e dar-lhe sepultura. Com grande admiração, encontrou-o ainda com vida. Sem demora deu providências para que o fosse levado para sua casa, onde o tratou com todo o desvelo.
Apenas restabelecido, o herói pro­curou o imperador e, sem pedir audiência, apresentou-se-lhe, acusan­do-o de grande injustiça, por con­denar inocentes, como eram os cris­tãos, a sofrer e morrer. Diocleciano a princípio, não sabia o que pensar e dizer pois tinha por certo que Se­bastião não mais existia entre os vivos. Perguntando-lhe quem era, Sebastião disse-lhe: “Sou Sebastião e do fato de eu estar vivo, devias concluir que é poderoso o Deus, a quem adoro, e que não fazes bem em perseguir-lhe os servos”. Dioclecia­no enfureceu-se com esta resposta e ordenou aos soldados que levassem a Sebastião ao foro e lá, na presen­ça de todo o povo, o matassem com paus e bolas de chumbo. Os algozes cumpriram também esta ordem e, para subtrair o cadáver à veneração dos cristãos, atiraram-no à cloaca máxima. Uma piedosa mulher, San­ta Luciana, porém, achou-o, e tirou-o da imundície, e sepultou-o aos pés de S. Pedro e S. Paulo. Assim acon­teceu em 287. Mais tarde, no ano de 680, as relíquias foram solenemente transportadas para uma basílica, construída por Constantino. Na­quela ocasião grassava em Roma a peste, que vitimou muita gente. A terrível epidemia desapareceu na hora daquela transladação, e esta é a razão por que os cristãos vene­ram em São Sebastião o grande pa­droeiro contra a peste. Em outras ocasiões se verificou o mesmo fato; assim no ano de 1575 em Milão, e 1599 em Lisboa, ficando estas duas cidades livres da peste pela intercessão do glorioso mártir São Se­bastião.
REFLEXÕES — São Sebastião vivia no meio de pagãos. Soldados e oficiais do exército ro­mano eram sua companhia quotidiana. Inabalável na fé, não se deixava influir pelas opiniões sarcasmos, críticas e calúnias daqueles que não eram cristãos. O mundo contemporâneo tem muitos sinais característicos do paganismo. Di­fícil é para um católico, que pela posi­ção social deve estar em contato contí­nuo com os pagãos modernos, conser­var-se firme na fé e nos bons costumes. Muitos transigem, não achando força bastante para resistir às tentações perturbadoras, ou para enfrentar opiniões e ataques contra a religião. Preferem curvar-se, intimidados pelo respeito hu­mano. Não imites este exemplo. Se todos forem adorar os bezerros de ouro, deves ir a Jerusalém, para adorar teu Deus, como fez o piedoso Tobias, que forçosa­mente havia de viver entre os infiéis. Se os outros querem trilhar o caminho do pecado, fica firme na prática da virtu­de, ou dize com o virtuoso Matatias “Ainda que todas as gentes obedeçam ao rei Antíoco, de tal sorte que cada um se aparte do jugo da lei do país e consinta nos mandamentos do rei: Eu e meus filhos e meus irmãos obedecere­mos à lei do nosso país. Deus de tal sor­te nos defenda: nenhuma conveniência temos em deixar a lei, e as ordenanças de Deus”. (I. Mach. 2, 19).Aqueles que vivem desregradamente, não te defenderão perante Deus; e este mandou positivamente: “Não seguirás a multidão dos homens para praticar o mal”. (2 Mos. 23, 2). “Vive com poucos” — diz S. Crisóstomo, “se com poucos queres salvar-te”.

 Santos, cuja memória é celebrada hoje:

Em Roma. S. Fabião, Papa e Mártir. Seu corpo foi depositado nas catacumbas de São Calixto.250.
Em Nicéia (Ásia Menor) São Neófito: So­freu o martírio na idade de 15 anos.
Na Palestina Santo Eutímio, abade.

Extraído do Livro Na Luz Perpétua ­ — Pe. João Batista Lehmann
I. Volume – V Edição - 1959. 


[1] São Sebastião — At. Mártir. Boland. 2. Jan. Tillemont tom. 4. p. 551. As atas originais da vida de São Sebastião se perderam. Uma biografia deste Santo, que relata o seu Martírio, composta no séc. 5, contém fatos legendários e inverossímeis, por exemplo, este de São Se­bastião, sendo oficial da guarda imperial, ter sido flechado no Coliseu e morto a pauladas. Milão e Narbone disputam a honra de serem a pátria do Santo; a família de São Sebastião é de origem milanesa. Na Igreja de São Pedro ad Vincula em Roma existe um mosaico an­tiquissimo, que apresenta São Sebastião de barba branca em trajes palaciais e com nimbo; no tempo da Renascença começou-se a apresentar o Santo como jovem, quase nú e traspassado de flechas. Na Igreja de São Pedro ad Vincula em Roma se conserva a coluna, na qual São Sebastião exalou seu espírito. Na Igreja de São Sebastião, em Veneza, há um ci­clo de quadros da vida do Santo. Na Galeria Pitti, em Florença, há um quadro que mos­tra São Sebastião fazendo a Deus oferta de flechas. Cf. F. de Sales Doyé II. vol. de “Heilige und Selige der roem. kath. Kirche”. 1929. Leipzig.

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