«Liturgia Dominical»
Ano 9 – nº 483 – 21 de maio de 2020
Ano 9 – nº 483 – 21 de maio de 2020
† Ascensão de Nosso Senhor
branco – 1ª classe.
A festa da Ascensão,
diz S. Bernardo, "é
a consumação, a coroa das outras solenidades e o termo
glorioso da jornada terrestre
do Filho de Deus".
Durante quarenta dias, permanecera Jesus no mundo, para fortalecer os seus discípulos na f é e os preparar para a vinda do Espírito Santo. Mas soou enfim a hora de se despedir daqueles que tanto amava. Ainda que de despedida, essa hora era contudo de grande alegria para o Mestre e os seus discípulos, e para a humanidade inteira.
Alegria porque Jesus triunfou. Terminaram
as humilhações, os sofrimentos. A coroa de espinhos e opróbrios
se converte em coroa de honra, a Cruz ignominiosa, em trono de glória. Alegremo-nos porque o Salvador subiu ao
céu para ali preparar-nos um lugar. Porque junto do trono de seu Pai, Jesus contínua
a interceder por nós e a cumprir a sua missão de Mediador entre Deus e os homens.
Alegremo-nos ainda, porque a sua subida é o penhor da descida
do Espírito Santo. "Se eu não for, o Espírito
Santo não virá a vós". Alegremo-nos, finalmente, porque
este mesmo Jesus que hoje se esconde aos nossos olhares,
descerá um
dia,
em
toda
a sua Majestade e todo
o seu poder, para julgar os vivos e os mortos, e então os nossos olhos contemplarão
extasiados sua santa
Humanidade, sem o receio, para sempre afastado, de uma nova separação.
Enquanto a Epístola e o Evangelho narram sucintamente o
fato histórico, ouvimos nos Cânticos perpassar estas melodias de júbilo. Cremos
firmemente que o Nosso Redentor subiu ao céu e nesta convicção Lhe dirigimos
uma súplica, para que também nós tenhamos em espírito a nossa morada no céu
(Oração).
«homens da Galileia por que estais olhando para o
céu?» Ep.
Intróito
/ Viri Galilæi – Atos dos Apóstolos 1. 11 — Salmo 46. 2
O Intróito como que
enuncia o tema geral da Missa ou solenidade do dia.
Canto solene de entrada, o Introito como que enuncia o tema geral da
Missa ou solenidade do dia. Compunha-se antigamente duma antífona e de um
salmo, que se cantava por inteiro. Hoje o salmo está reduzido a um só
versículo.
Viri Galilǽi, quid admirámini aspiciéntes in cælum?
allelúia: quemádmodum vidístis eum ascendéntem in cælum, ita véniet, allelúia,
allelúia, allelúia. Ps. Omnes gentes, pláudite mánibus: iubiláte Deo in voce
exsultatiónis. ℣. Glória Patri.
Homens da Galiléia, porque admirados olhais para o
céu? Aleluia! Como o vistes subir para o céu, assim Ele virá: aleluia, aleluia,
aleluia. Sl. Vós nações todas, batei palmas, celebrai a Deus, com voz de alegre
canto. ℣. Glória ao Pai.
Oração (Colecta)
Pedimos ao Senhor aquilo de
que precisamos nesse dia para a nossa salvação.
É «o nosso Redentor» que hoje subiu ao céu. Que maior motivo, para
esperar, poderíamos ter? A Ascensão é a grande festa da esperança cristã.
Concéde, quǽsumus, omnípotens Deus: ut, qui hodiérna
die Unigénitum tuum, Redemptórem nostrum, ad cælos ascendísse crédimus; ipsi
quoque mente in cæléstibus habitémus. Per eundem Dominum nostrum Iesum Christum.
Concedei-nos, ó Deus onipotente, que assim como
cremos que o vosso Unigênito, nosso Redentor, subiu ao céu neste dia, assim
também nós em espírito habitemos no céu. Pelo mesmo Jesus Cristo.
Leitura dos
Atos dos Apóstolos 1. 1-11
Nos Atos dos Apóstolos, a descrição da Ascensão é um anúncio da missão
da Igreja, obra essencialmente divina, realizada inteiramente sob os auspícios
do Espírito Santo.
Primum quidem sermónem feci de ómnibus, o Theóphile,
quæ cœpit Iesus facere et docére usque in diem, qua, præcípiens Apóstolis per
Spíritum Sanctum, quos elégit, assúmptus est: quibus et prǽbuit seípsum vivum
post passiónem suam in multas arguméntis, per dies quadragínta appárens eis et
loquens de regno Dei. Et convéscens, præcépit eis, ab Ierosólymis ne
discéderent, sed exspectárent promissiónem Patris, quam audístis -inquit - per
os meum: quia Ioánnes quidem baptizávit aqua, vos autem baptizabímini Spíritu
Sancto non post multos hos dies. Igitur qui convénerant, interrogábant eum,
dicéntes: Dómine, si in témpore hoc restítues regnum Israël? Dixit autem eis:
Non est vestrum nosse témpora vel moménta, quæ Pater pósuit in sua potestáte:
sed accipiétis virtútem superveniéntis Spíritus Sancti in vos, et éritis mihi
testes in Ierúsalem et in omni Iudǽa et Samaría et usque ad últimum terræ. Et
cum hæc dixísset, vidéntibus illis, elevátus est, et nubes suscépit eum ab
óculis eórum. Cumque intuerétur in cælum eúntem illum, ecce, duo viri
astitérunt iuxta illos in véstibus albis, qui et dixérunt: Viri Galilǽi, quid
statis aspiciéntes in cælum? Hic Iesus, qui assúmptus est a vobis in cælum, sic
véniet, quemádmodum vidístis eum eúntem in cælum.
1Em
minha primeira narração1, ó Teófilo, tratei de todas as coisas que
Jesus fez e ensinou desde o princípio 2até o dia em que, tendo dado preceitos
por meio do Espírito Santo, aos Apóstolos que tinha escolhido, foi arrebatado
[ao céu]. 3A eles também, depois de sua Paixão, se
apresentou vivo com muitas provas, aparecendo-lhes durante quarenta dias e
falando-lhes do Reino de Deus. 4E, comendo com eles, ordenou-lhes que
não se afastassem de Jerusalém, mas esperassem a promessa do Pai, que ouvistes
(disse) da minha boca. 5João batizou com água, vós, porém,
sereis batizados2 com o Espírito Santo, dentro de poucos
dias. 6Então os que estavam reunidos assim o
interrogavam: Senhor, será nesse tempo que estabelecereis o reino de
Israel? 7Respondeu-lhes então: não vos cabe
saber o tempo e a hora que o Pai em Seu poder determinou. 8Mas recebereis a força do Espírito Santo, que virá
sobre vós3, e me sereis testemunhas em Jerusalém, em toda Judéia e a
Samaria, e até às extremidades da terra. 9Depois de ter dito isto, elevou-se, à vista deles,
e uma nuvem O ocultou a seus olhos. 10E como estivessem com os olhos fitos no
céu, enquanto ele ia subindo, eis que dois varões vestidos de branco, surgiram junto
a eles 11e lhes disseram: homens da Galileia por
que estais olhando para o céu? Esse Jesus que do meio de vós se elevou ao céu
virá do mesmo modo porque o vistes ir para o céu.
1. O
terceiro Evangelho, dedicado igualmente, por S. Lucas, a Teófilo, cristão de
elevada posição.
2.
Mergulhados e renovados.
3. A
missão dos Apóstolos realizar-se-á inteiramente sob a moção do Espírito Santo.
Alelúia
/ Salmos 46. 6; 67. 18-19
Cantos, por via de regra, tirados dos salmos e que traduzem os devotos
afetos produzidos na alma pela leitura da Epístola ou sugeridos pelo Mistério
do dia.
Allelúia, allelúia. ℣. Ascéndit
Deus in iubilatióne, et Dóminus in voce tubæ. Allelúia. ℣. Dóminus
in Sina in sancto, ascéndens in altum, captívam duxit captivitátem. Allelúia.
Aleluia, aleluia. ℣. Deus subiu no meio de aclamações de júbilo, e O
senhor, ao som da trombeta. Aleluia. O Senhor, em seu santuário, como no Sinai,
subindo ao alto, levou os cativos como presas. Aleluia.
Evangelho segundo
São Marcos 16. 14-20
Como na epístola, também aqui se afirma a conexão entre a partida de
Jesus e a missão da Igreja incipiente; é sempre a obra do Senhor.
In illo témpore: Recumbéntibus úndecim discípulis,
appáruit illis Iesus: et exprobrávit incredulitátem eórum et durítiam cordis:
quia iis, qui víderant eum resurrexísse, non credidérunt. Et dixit eis: Eúntes
in mundum univérsum, prædicáte Evangélium omni creatúræ. Qui credíderit et
baptizátus fúerit, salvus erit: qui vero non credíderit, condemnábitur. Signa
autem eos, qui credíderint, hæc sequéntur: In nómine meo dæmónia eiícient:
linguis loquantur novis: serpentes tollent: et si mortíferum quid bíberint, non
eis nocébit: super ægros manus impónent, et bene habébunt. Et Dóminus quidem
Iesus, postquam locútus est eis, assúmptus est in cælum, et sedet a dextris
Dei. Illi autem profécti, prædicavérunt ubíque, Dómino cooperánte et sermónem
confirmánte, sequéntibus signis.
Naquele tempo, 14estando à mesa os onze discípulos, apareceu-lhes
Jesus e censurou-lhes a sua incredulidade e dureza de coração, por não haverem
acreditado naqueles que O tinham visto ressuscitado. 15E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o
Evangelho a toda criatura. 16O que crer e for batizado, será salvo:
porém o que não crer será condenado. 17E eis os milagres que seguirão aos que
crerem: em meu Nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas; 18levantarão as serpentes; e, se beberem alguma coisa
mortífera, esta não lhes fará mal; imporão as mãos aos enfermos e estes serão
curados. 19E o Senhor Jesus, depois de lhes ter
falado, elevou-se ao céu e está sentado à direita de Deus. 20Eles porém partiram e pregaram por toda a parte. E
o Senhor operou com eles e confirmou a sua pregação com os milagres que a
acompanhavam.
CREDO... Concluímos a
Ante-Missa com essa profissão de fé.
Breve compêndio das verdades cristãs e Símbolo da fé católica. Com a
Igreja, afirmemo-las publicamente e renovemos a profissão de fé que fizemos no
Batismo.
Ofertório / Salmo 46. 6
Com o Ofertório, começa a
segunda parte da Missa ou Sacrifício propriamente dito.
Com o Ofertório, começa a segunda parte da Missa ou Sacrifício
propriamente dito. Três elementos o constituíam antigamente: apresentação das
oferendas, canto de procissão, oração sobre as oblatas.
Ascéndit Deus in iubilatióne, et Dóminus in voce
tubæ, allelúia.
Deus subiu entre aclamações de jubilo, e o Senhor,
ao som da trombeta, aleluia.
Secreta
É a antiga “oração sobre as oblatas”, ponto de ligação entre o Ofertório
e o Cânon.
É neste último que se faz propriamente a oblação do sacrifício.
Súscipe, Dómine, múnera, quæ pro Fílii tui gloriósa
censióne deférimus: et concéde propítius; ut a præséntibus perículis liberémur,
et ad vitam per veniámus ætérnam. Per eundem Dominum nostrum Iesum Christum.
Aceitai, Senhor, os dons que Vos apresentamos pela
gloriosa Ascenção de Vosso Filho, e concedei, benigno, sejamos livres dos
perigos deste tempo e alcancemos a vida eterna. Pelo mesmo Jesus Cristo.
Communio / Salmo 67.
33-34
Alternando com o canto dum salmo, acompanhava (e ainda hoje pode
acompanhar) a comunhão dos fiéis.
Nas Missas cantadas, se canta, enquanto o sacerdote toma as abluções e
recita as orações seguintes em que se pedem para a alma os frutos da Comunhão.
Psállite Dómino, qui ascéndit super cælos cælórum ad
Oriéntem, allelúia.
Cantai salmos ao Senhor que sobe ao céu dos céus,
para o Oriente, aleluia.
Postcommunio
Súplica a Deus para que nos conceda os frutos do Sacrifício.
Præsta nobis, quǽsumus, omnípotens et miséricors
Deus: ut, quæ visibílibus mystériis suménda percépimus, invisíbili consequámur
efféctu. Per Dominum nostrum Iesum Christum.
Nós Vos suplicamos, ó Deus onipotente e
misericordioso, permiti alcancemos o fruto invisível destes visíveis mistérios
que como Alimento acabamos de receber. Por Nosso Senhor Jesus Cristo.
Meditação
A Ascensão do Senhor
Ó Jesus que subis ao céu, fazei que pelo coração também eu habite no
céu.
1 — A liturgia de hoje convida-nos a
elevar os nossos corações ao céu para começarmos a habitar em espírito onde
Jesus nos precedeu: «A Ascensão de Cristo — diz S. Leão — é a nossa elevação e
o corpo tem a esperança de estar um dia onde o precedeu a sua gloriosa Cabeça»
(BR.). De fato, já no discurso da última Ceia o Senhor tinha dito: «vou
preparar o lugar para vós. E depois que eu tiver ido e vos tiver preparado o
lugar, virei novamente, e tomar-vos-ei comigo, para que onde eu estou, estejais
vós também» (Jo. 14, 2 e
3). A Ascensão é, portanto, uma festa de
radiosa esperança, de suave antegozo do céu: ao entrar nele, Jesus, nossa
Cabeça, deu-nos o direito de O seguirmos um dia; assim, podemos dizer com S.
Leão, «que em Cristo nós mesmos penetramos no mais alto dos céus» (BR.). Como
em Cristo crucificado morremos para o pecado e em Cristo ressuscitado
ressuscitámos para a vida da graça, assim, pela Sua Ascensão, também nós
subimos ao céu. Esta participação vital nos mistérios de Cristo é a grande
consequência da nossa incorporação nEle; sendo Ele a nossa Cabeça, nós, os Seus
membros, estamos totalmente dependentes dEle e intimamente ligados à Sua sorte.
«Deus, que é rico em misericórdia — ensina S. Paulo — pela Sua extrema caridade
com que nos amou... Convivificou-nos em Cristo... e com Ele nos ressuscitou e
nos fez sentar nos céus» (Ef. 2, 4-6). O
direito ao céu foi adquirido, o lugar está pronto, compete-nos agora viver de
modo a merecermos ocupá-lo um dia. Entretanto na expectativa, devemos viver a
bela prece que a liturgia nos põe nos lábios: «Deus todo-poderoso, concedei-nos
a graça de também nós vivermos em espírito na morada celeste» (Colecta). «Onde
está o teu tesouro, aí está também o teu coração» (Mt. 6, 21), disse Jesus um dia. Se Jesus é verdadeiramente o
nosso tesouro, o nosso coração não poderá estar senão no céu junto dEle. Este é
o grande anseio da alma cristã, tão bem expresso no hino de Vésperas de hoje:
«Ó Jesus, sede a meta dos nossos corações, sede o conforto das nossas lágrimas,
sede o doce prêmio da nossa vida» (BR.).
2 — Mas a par da esperança e da alegre
expectativa do céu, a festa da Ascensão tem a sua nota de melancolia. Perante a
partida definitiva de Jesus, os Apóstolos sentem-se tomados por uma sensação de
temor, o temor de quem vê afastar-se para sempre o amigo e protetor mais
querido e se encontra só, em face das dificuldades da vida. O Senhor vê o
estado de espírito dos Seus e mais uma vez os conforta, prometendo a vinda do
Espírito Santo, o Espírito Consolador: «Ordenou-lhes — lemos na Epístola (At.
1, 1-11) — que não se afastassem de Jerusalém, mas que
esperassem a promessa do Pai... Vós sereis batizados no Espírito Santo daqui a
poucos dias». Ainda desta vez os Apóstolos não compreenderam. Como tinham
necessidade de ser iluminados e transformados pelo Espírito Santo para ficarem
aptos para a grande missão que lhes seria confiada! E de fato Jesus repetiu:
«Recebereis a virtude do Espírito Santo... e me sereis testemunhas... até às
extremidades da terra». De momento, porém, estão ali, junto do Mestre,
medrosos, atemorizados, tal como as crianças que vêem partir a mãe para um país
longínquo e desconhecido. Efetivamente, enquanto os seus olhares estão
dirigidos para Ele, Jesus eleva-Se para o alto e uma nuvem esconde-O aos seus
olhos. Foi preciso virem dois Anjos para os tirarem daquele abatimento e para
os chamarem à realidade do fato consumado. Então, confiando na palavra de
Jesus, que é doravante o seu único apoio, voltam para Jerusalém e fecham-se no
Cenáculo, esperando, em oração, o cumprimento da promessa. Foi a primeira
novena de Pentecostes: «perseveraram unanimemente em oração... com Maria, Mãe
de Jesus» (At. 1, 14).
Retiro, recolhimento, oração, concórdia
com os irmãos, união com Maria SS.ma, eis as características da novena que nos
deve preparar também a nós para a vinda do Espírito Santo.
Extraído
do Livro Intimidade Divina — P. Gabriel de Santa Maria Madalena O.C.D.
Segunda
edição (Traduzida da 12ª edição italiana) — 1967.
Nenhum comentário:
Postar um comentário